O QUE A BÍBLIA DIZ SOBRE O HOMOSSEXUALISMO
1.ERAM OS SODOMITAS PEDERASTAS?
Tentar responder a essa pergunta é buscar o significado para o teor do pecado das cidades de Sodoma e Gomorra.A narrativa bíblica fala da deliberação divina em varrer as duas cidades da face da terra em decorrência de seu pecado reiterado ( Gn 18-20 ) , o texto em II Pe 2: 6-8 aproxima-se do sentido comumente atribuído ao ‘pecado de Sodoma’, em que pese certa ambigüidade nos termos da tradução : de fato ‘dissolução’ ou ‘vida dissoluta’ e ‘abomináveis’ dão margem a interpretações diversas, por assim dizer, inespecíficas, ainda que tenhamos em mente o que ‘abominação’ sugere, num texto judaico.Não por acaso, os subtítulos acrescidos na tradução de Lv18, Casamentos Ilícitos e Uniões Abomináveis, dão uma idéia duma graduação na gravidade do pecado : o homossexualismo ( masculino, diga-se de passagem ) é incluído em Uniões Abomináveis entre sacrifício humano e bestialidade.Embora numa leitura fundamentalista talvez não faça sentido falar em ‘tamanho do pecado’ a distinção textual é gritante : de fato, em Casamentos Ilícitos incluem-se basicamente incesto ( de diversas modalidades ) e poligamia.De modo que para os que defendem que o grave crime de Sodoma e Gomorra não era de teor sexual, pervertido de algum modo, o elemento relevante é a menção das duas cidades em todo o Antigo Testamento sempre que se pretende exemplificar injustiça e violência, particularmente contra órfãos, necessitados em geral e o estrangeiro : fundamentam essa leitura Gn 13:13 e Ez 16:49, entre outros.Segundo esse modo de pensar, o crime de Sodoma e Gomorra seria injustiça social e falta de hospitalidade, o que talvez fosse, sim, motivo para a ira divina, como mais tarde ( provavelmente no reinado de Jeroboão II ) ocorreria com a violenta Nínive, na narrativa do profeta Jonas.Ocorre que o episódio envolvendo os hóspedes de Ló (Gn 19) não deixa muita margem para especulações que excluam a possibilidade do homossexualismo ser prática comum naquelas cercanias : os cidadãos de Sodoma desejaram uma ‘socialização’ com os hóspedes de Ló e a respeito disso não há dúvida : de fato essa foi a confirmação do clamor a respeito dos crimes da cidade ( Gn 18:20,21 e 2 Pe 2:7).
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Os cananeus de aproximadamente sete séculos depois da queda de Sodoma e Gomorra aparentemente cultivavam os mesmos hábitos infames, como deixa claro o texto em Lv 18.
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2.UM ESCÂNDALO NA SOCIEDADE
Na história dos reis de Judá é interessante notar a alternância de reis que seguiam os preceitos tradicionais da religião judaica e os que tendiam, por questões pessoais, políticas ou ambas, para o paganismo das nações vizinhas.Entre estes há uma tolerância para com o que o texto bíblico chama de ‘rapazes escandalosos’ ( ‘sodomitas’ numa outra tradução ), Reoboão é o exemplo que me ocorre ( I Rs 14:24 ).E em contrapartida os reis de orientação religiosa tradicional combaterão os mesmos rapazes escandalosos : Asa ( I Rs 15:12 ), Josafá ( I Rs 22:47 ) e Josias ( II Rs 23:7 ).
Nesse contexto, diferentemente do relato de Gênesis, a condenação ao homossexualismo já se define numa perspectiva de religião organizada, dogma e preceitos definidos, não se trata aqui da intervenção divina direta sobre o erro, mas da vontade política exercida pela figura do monarca em favor duma orientação religiosa característica do governo teocrático.O rei age no interesse dos rumos do povo e, obviamente, da manutenção da estabilidade política, o ato condenado pela religião oficial sendo um indício de corrupção espiritual a ser eliminada energicamente ( Josafá lançou mão do exílio como instrumento de ‘faxina’ ).
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3.JESUS ATIRARIA A PRIMEIRA PEDRA?
Os relatos bíblicos referentes à vida de Jesus não mencionam nenhum episódio que se possa relacionar ainda que remotamente ( ou forçadamente, alguém diria ) com a homossexualidade ou práticas homossexuais.Do que se conhece da atitude do Mestre em relação ao pecado e, principalmente, em relação ao pecador, depreende-se que seu foco seria a salvação, como sempre, e não o julgamento temerário levado a efeito por uma estrutura religiosa hipócrita, desgastada e mesquinha que pôs à prova diversas vezes ( o episódio da mulher adúltera é singular no que revela da corrupção de supostos ‘homens de fé’ no exercício mesmo do que se lhes afigurava por justiça : ora, segundo a lei judaica, o casal de adúlteros deveria ser apresentado a julgamento, não apenas a mulher ( Lv 20:10 ) ).E embora a ausência de orientação específica nesse terreno possa despertar a ilusão de que a prática homossexual não foi condenada por Jesus, isso parece ser apenas uma percepção superficial do propósito de Cristo : é sempre importante lembrar que ele não veio anular a Lei mas cumpri-la em si mesmo.
4.ATÉ TU, BRUTUS?
Inevitavelmente o texto áureo em se tratando desse tema, na carta de Paulo aos cristãos em Roma, é Rm 1 : 26-28.O discurso direto de Paulo deve ser compreendido dentro da proposta da epístola, que é anunciar o evangelho de Jesus Cristo como meio de salvação eterna.A primeira e talvez óbvia observação a ser feita aqui é que Paulo dirige-se aos cristãos em Roma ( cujo imperador àquela altura era Nero ), fala portanto objetivamente do que não era novidade para os seus leitores.Menciona-se pela primeira e única vez no texto bíblico a prática do lesbianismo ( Rm 1:26 ).O que há de interessante e de fato novo no texto paulino, no entanto, é a sua noção de sensualidade pervertida enquanto uma conseqüência, uma maldição devida a um erro anterior : pela primeira vez a condição homossexual é apresentada no texto bíblico como um castigo decorrente de conduta pecaminosa da humanidade, não apenas um erro em si mesmo.A percepção de Paulo atenta para o afastamento do homem do que deveria ser o conhecimento e a experiência de Deus : Rm 1:21 sugere um processo que passa pelo desvirtuamento da linguagem enquanto ferramenta de percepção da realidade ( parece contemporâneo de Wittgenstein... ) e conseqüente desorientação da vontade.Note que não há nenhum Deus furioso consumindo em fogo e enxofre os pecadores contumazes, aqui, não, nenhum vestígio de Sinners In The Hands Of An Angry God : a conseqüência do erro não é mais a extinção sumária mas a perpetuação duma existência da qual Deus foi excluído já por não ‘caber’ numa percepção humana corrompida a respeito de si mesma.
1.ERAM OS SODOMITAS PEDERASTAS?
Tentar responder a essa pergunta é buscar o significado para o teor do pecado das cidades de Sodoma e Gomorra.A narrativa bíblica fala da deliberação divina em varrer as duas cidades da face da terra em decorrência de seu pecado reiterado ( Gn 18-20 ) , o texto em II Pe 2: 6-8 aproxima-se do sentido comumente atribuído ao ‘pecado de Sodoma’, em que pese certa ambigüidade nos termos da tradução : de fato ‘dissolução’ ou ‘vida dissoluta’ e ‘abomináveis’ dão margem a interpretações diversas, por assim dizer, inespecíficas, ainda que tenhamos em mente o que ‘abominação’ sugere, num texto judaico.Não por acaso, os subtítulos acrescidos na tradução de Lv18, Casamentos Ilícitos e Uniões Abomináveis, dão uma idéia duma graduação na gravidade do pecado : o homossexualismo ( masculino, diga-se de passagem ) é incluído em Uniões Abomináveis entre sacrifício humano e bestialidade.Embora numa leitura fundamentalista talvez não faça sentido falar em ‘tamanho do pecado’ a distinção textual é gritante : de fato, em Casamentos Ilícitos incluem-se basicamente incesto ( de diversas modalidades ) e poligamia.De modo que para os que defendem que o grave crime de Sodoma e Gomorra não era de teor sexual, pervertido de algum modo, o elemento relevante é a menção das duas cidades em todo o Antigo Testamento sempre que se pretende exemplificar injustiça e violência, particularmente contra órfãos, necessitados em geral e o estrangeiro : fundamentam essa leitura Gn 13:13 e Ez 16:49, entre outros.Segundo esse modo de pensar, o crime de Sodoma e Gomorra seria injustiça social e falta de hospitalidade, o que talvez fosse, sim, motivo para a ira divina, como mais tarde ( provavelmente no reinado de Jeroboão II ) ocorreria com a violenta Nínive, na narrativa do profeta Jonas.Ocorre que o episódio envolvendo os hóspedes de Ló (Gn 19) não deixa muita margem para especulações que excluam a possibilidade do homossexualismo ser prática comum naquelas cercanias : os cidadãos de Sodoma desejaram uma ‘socialização’ com os hóspedes de Ló e a respeito disso não há dúvida : de fato essa foi a confirmação do clamor a respeito dos crimes da cidade ( Gn 18:20,21 e 2 Pe 2:7).
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Os cananeus de aproximadamente sete séculos depois da queda de Sodoma e Gomorra aparentemente cultivavam os mesmos hábitos infames, como deixa claro o texto em Lv 18.
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2.UM ESCÂNDALO NA SOCIEDADE
Na história dos reis de Judá é interessante notar a alternância de reis que seguiam os preceitos tradicionais da religião judaica e os que tendiam, por questões pessoais, políticas ou ambas, para o paganismo das nações vizinhas.Entre estes há uma tolerância para com o que o texto bíblico chama de ‘rapazes escandalosos’ ( ‘sodomitas’ numa outra tradução ), Reoboão é o exemplo que me ocorre ( I Rs 14:24 ).E em contrapartida os reis de orientação religiosa tradicional combaterão os mesmos rapazes escandalosos : Asa ( I Rs 15:12 ), Josafá ( I Rs 22:47 ) e Josias ( II Rs 23:7 ).
Nesse contexto, diferentemente do relato de Gênesis, a condenação ao homossexualismo já se define numa perspectiva de religião organizada, dogma e preceitos definidos, não se trata aqui da intervenção divina direta sobre o erro, mas da vontade política exercida pela figura do monarca em favor duma orientação religiosa característica do governo teocrático.O rei age no interesse dos rumos do povo e, obviamente, da manutenção da estabilidade política, o ato condenado pela religião oficial sendo um indício de corrupção espiritual a ser eliminada energicamente ( Josafá lançou mão do exílio como instrumento de ‘faxina’ ).
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3.JESUS ATIRARIA A PRIMEIRA PEDRA?
Os relatos bíblicos referentes à vida de Jesus não mencionam nenhum episódio que se possa relacionar ainda que remotamente ( ou forçadamente, alguém diria ) com a homossexualidade ou práticas homossexuais.Do que se conhece da atitude do Mestre em relação ao pecado e, principalmente, em relação ao pecador, depreende-se que seu foco seria a salvação, como sempre, e não o julgamento temerário levado a efeito por uma estrutura religiosa hipócrita, desgastada e mesquinha que pôs à prova diversas vezes ( o episódio da mulher adúltera é singular no que revela da corrupção de supostos ‘homens de fé’ no exercício mesmo do que se lhes afigurava por justiça : ora, segundo a lei judaica, o casal de adúlteros deveria ser apresentado a julgamento, não apenas a mulher ( Lv 20:10 ) ).E embora a ausência de orientação específica nesse terreno possa despertar a ilusão de que a prática homossexual não foi condenada por Jesus, isso parece ser apenas uma percepção superficial do propósito de Cristo : é sempre importante lembrar que ele não veio anular a Lei mas cumpri-la em si mesmo.
4.ATÉ TU, BRUTUS?
Inevitavelmente o texto áureo em se tratando desse tema, na carta de Paulo aos cristãos em Roma, é Rm 1 : 26-28.O discurso direto de Paulo deve ser compreendido dentro da proposta da epístola, que é anunciar o evangelho de Jesus Cristo como meio de salvação eterna.A primeira e talvez óbvia observação a ser feita aqui é que Paulo dirige-se aos cristãos em Roma ( cujo imperador àquela altura era Nero ), fala portanto objetivamente do que não era novidade para os seus leitores.Menciona-se pela primeira e única vez no texto bíblico a prática do lesbianismo ( Rm 1:26 ).O que há de interessante e de fato novo no texto paulino, no entanto, é a sua noção de sensualidade pervertida enquanto uma conseqüência, uma maldição devida a um erro anterior : pela primeira vez a condição homossexual é apresentada no texto bíblico como um castigo decorrente de conduta pecaminosa da humanidade, não apenas um erro em si mesmo.A percepção de Paulo atenta para o afastamento do homem do que deveria ser o conhecimento e a experiência de Deus : Rm 1:21 sugere um processo que passa pelo desvirtuamento da linguagem enquanto ferramenta de percepção da realidade ( parece contemporâneo de Wittgenstein... ) e conseqüente desorientação da vontade.Note que não há nenhum Deus furioso consumindo em fogo e enxofre os pecadores contumazes, aqui, não, nenhum vestígio de Sinners In The Hands Of An Angry God : a conseqüência do erro não é mais a extinção sumária mas a perpetuação duma existência da qual Deus foi excluído já por não ‘caber’ numa percepção humana corrompida a respeito de si mesma.