PALAVRAS QUE NÃO ERAM PARA SEREM LIDAS
Todas elas eram verdadeiras. E foram escritas. Foram sentimentos e pensamentos mais sinceros que não foram lidos, por que não eram para serem lidos. Até que um dia, os momentos levaram os olhos até eles, mas, eles não estavam mais lá, por que não eram para serem lidos. Os ventos dissiparam a sua essência, e sua forma não possuía mais nenhum valor ou significado. A sua ausência por tempos não foi sentida, mas, elas partiram silenciosamente, levando consigo o peso mais cruel da dor. Uma por uma, refugiaram-se no recôndito da solidão, por que sabiam que não eram para serem lidas. Até que as noites mais nebulosas levaram os olhos mais famintos por esperança, e encontraram o nada, por que as palavras não estavam mais lá. No fundo, elas nunca existiram, eram apenas ilusões. Sonhos, em nuvens, em ar, em vento. Eram o lado mais visível da verdade, o sabor mais doce da infância, a delicadeza mais pura do sentir. Impossível seria lê-las. Não conseguiriam. Não tentaram, e, elas partiram. Sorrateiramente, silenciosamente, levando consigo as lembranças dos dias, das manhãs, das tardes e das noites, em que, em luzes, brilhavam, em fogos, queimavam, em silêncio, falavam, mas, não puderam lê-las, em peso, pesavam, em tamanho, incomodavam. Até que a dor mais vil procurou alívio, até que o vazio procurasse o espaço, até que os olhos lacrimejados desejassem acalento. Mas, não encontraram as palavras, por que estas, não existiam mais. Eram palavras que não eram para serem lidas.
Fernanda A. Fernandes
15/08/12