O animal da dúvida
A verdade não participa do pensamento. Uma das características mais fortes do pensamento é a capacidade, ostensivamente utilizada, de duvidar. Através da dúvida qualquer verdade, mesmo a mais inquestionável, torna-se incerta. É isso que nos faz ser o que somos. É o que nos faz existir, e duvidar da nossa própria existência. Duvidar, inclusive, da nossa própria morte. Se cremos em alguma coisa, é exclusivamente para poder duvidar dela. Duvidamos de tudo, ao ponto de nos tornarmos, essencialmente, os animais da dúvida. O único animal que duvida: o ser humano.
Nota: Descartes (plagiando Aristóteles) disse que para chegar à verdade é preciso duvidar. Mas a dúvida vicia. Um viciado na dúvida é um cético. Em determinados casos, um cético irrecuperável. Penso ser isto o que sou. E serei, até que algo ou alguém me faça deixar de ser.