QUANTO A VIDA É FÁCIL

Fomos feitos num momento de prazer de nossos pais e até para sairmos à luz o esforço foi só de nossa mãe. Nossos pais nos fizeram crescer e nos instruiram para a vida adulta, sem que nada tivéssemos que fazer, a não ser estudar, mas mesmo nisso eles providenciaram tudo. Depois de adultos, com o trabalho de oito horas diárias num local já preparado por alguém, podemos morar em uma casa com tudo à mão, buscar a comida logo ali no supermercado e cozinhar num fogão que basta riscar um palito de fósforo, sem contar como é fácil acender a luz, tomar banho, lavar a roupa e tudo mais.

Muitos entram em depressão e jogam-se no desânimo, mas, embora sem querer continuar vivendo, seguem vivos e vão assim por vários anos, até a velhice. Alguns destroem-se, partem para o alcoolismo, as drogas; largam a vida de mão por completo, indo para a sarjeta, à mercê das intempéries, do desconforto, da sujeira, das doenças, sem fazer absolutamente nada para viver, mas ainda assim vivem muitos anos.

A despeito, porém, da vida ser tão fácil, vivemos a reclamar e pouco agradecer. Seguidamente dissemos que “a vida não é fácil”, “não é mole”, que estamos “lutando”, “levando”, “remando contra a maré”, etc., nos queixando de quanto sacrifício a vida nos impõe injustamente, os trabalhos que passamos, as dificuldades que suportamos para “sobreviver”, algumas relacionadas ao próprio ganha-pão, a profissão, as contas a pagar por causa de nossa vaidade, os relacionamentos mal ajustados, as coisas que se quer comprar e não se pode, as que se quer fazer e nunca dá.

Queixamos-nos também por causa das coisas que deixamos de fazer, das oportunidades que deixamos passar e das chances que tivemos de fazer que o presente fosse melhor do que é. Seria mesmo que poderíamos ter feito o presente ser melhor? Quem nos garante?

Reclamamos também por causa do frio, do calor, da chuva, da seca, do dia cinzento, do ensolarado, por causa do dinheiro que temos que cobrar de alguém, por causa da compra que se tem que buscar, por causa da visita que vem para dar trabalho e despesa, por causa da demora do ônibus, do plantão do posto de saúde, da espera na farmácia do governo para conseguir remédio de graça, por causa do favor que não fizeram como queríamos, do presente que não era o que desejávamos.

E, assim, porque no presente estamos sempre mal, resta-nos a velha frase consoladora de que “dias melhores virão”. Então suportamos o presente por causa da esperança desse dia melhor. Todavia, porque esse dia melhor nunca chega, todos os dias são tristes, pois passamos os dias aborrecidos porque as coisas não estão fáceis como queríamos, porque não alcançamos o que só teremos no futuro, naquele dia que achamos que será melhor. Reduzimos, portanto, nossa vida e toda nossa satisfação a apenas um dia, que nem sabemos se chegará.

Logo, jogamos fora nossos dias, imaginando que existirá um dia que nos obrigará a sermos felizes contra nossa vontade. Mas, lamentavelmente, esse dia jamais chegará, pois um dia só será bom se fizermos que ele seja bom, se nos permitirmos perceber e sentir as coisas boas nele. Mas isto tudo, não indo às compras para preencher um vazio imaginário, não fazendo milagres para conseguir à força o que desejamos, mas sentindo o dia e sua realidade, as tantas coisas boas que nos trás, observando que todas as coisas têm um lado bom (talvez só lado bom), bastando apenas mudar a forma de ver cada uma, parando para observar quanto a vida é fácil e boa, quão plenamente a vida flui e corre a despeito de nosso descuido e falta de vontade; quanto mordomia temos, quanto Deus faz por nós sem que tenhamos de fazer nada. Muitas vezes Ele nos traz à porta o que precisamos e todos os dias Ele nos dá muito mais do que a vida e o ferramental para vivermos.

Os trabalhos que passamos são exercícios para o nosso fortalecimento, para termos força para enfrentar trabalhos mais difíceis com coragem e ânimo sem acharmos que tudo é aborrecimento e castigo. Também são aprendizagem, aquisição de conhecimento experimental, o que nos ajudará a resolver problemas simples, problemas pouco complexos, mais complexos e problemas difíceis e impossíveis, para ajudar-nos a nós mesmos e aos outros.

E podemos ser gratos a Deus, inclusive e principalmente por sermos pobres, pois assim não temos insegurança, não vivemos ansiosos, com medo de perder tudo e empobrecer. Este medo mata os ricos e eles não conseguem se livrar dele, por isso a maioria deles vive encerrados e armazenam muito mais remédios do que os pobres. Além do mais, nossa vida de pobres e remediados é muito mais fácil, pois tudo nos serve, tudo nos satisfaz, não somos complicados, somos simples e não precisamos de grandes arranjos para nos satisfazer; não precisamos pôr as pessoas em pavorosa para nos agradar.

E, se cuidarmos de nossa saúde com temperança, seja na alimentação, nos programas diários, nas preocupações com o dia-a-dia e como o dia de amanhã, nos gastos, nas horas trabalhadas, muito menos médicos precisaremos, muito menos remédios, menos serviço público, menos um monte de coisa que nos desacomoda.

Não se pode resolver hoje os problemas de amanhã, por isto não tem porque, além de nos ocuparmos com os problemas que temos que resolver hoje, somarmos a eles os de amanhã. Resolvamos os problemas de hoje no dia presente e os de amanhã quando chegar sua vez.

Lucas 12: 16-20 – Não espere acumular muitos bens para ter folga de espírito. “Louco, esta noite te pedirão tua alma e quem desfrutará de teu esforço serão pessoas que não fizeram nada”.

Lucas 12:22-31 – “Não estais ansiosos quanto ao dia de amanhã, quanto ao que haveis de comer, de beber e vestir. Deus sabe que precisamos de todas essas coisas”

Lucas 14:8e9 – “Não sejamos apressado, pois pode acabar pagando vexame, além de vivermos com raiva e extressados. Devemos esperar pacientemente nossa vez e sermos corteses para com os demais, cedendo a vez”.

Efésios 4:26 e 27 – “Não devemos levar tudo a ponta de faca”. Não devemos fazer muita questão de pôr tudo em pratos limpos, de exigir tanta satisfação dos outros e fazer justiça a nosso favor. Devemos relaxar e viver em paz e bem.

Lucas 6:29 e 30 - “Não devemos ser justiceiros”. Não devemos ficar “pondo banca” e entrando em questão com as pessoas; não se ganha nada com isso.

Aproveitar a vida e viver bem é uma questão de mordomia e reconhecimento da bondade de Deus, pois Ele é o dono de nosso corpo e de nossa saúde, não querendo que destruamos nem um nem o outro, pois de ambos depende nossa felicidade e não somo felizes porque somos obstinados em fazer que tudo seja exatamente como queremos; não temos flexibilidade, não adaptamos, não prevemos plano B. Não podemos desperdiçar nossa vida e tampouco gastá-la com marras, com "queixo duto", mau humor e “mimos infantis”, tampouco descartar (desprezar) os dias como se eles fossem lixo. Podemos e devemos saborear cada um dos dias que recebemos de Deus como se fosse o último, pois, de fato, ele pode acabar mesmo sendo e não teremos saboreado nossas últimas horas. Portanto, devemos literalmente “carpe diem” (saborear o momento – saborear o dia), pois teremos que prestar contas de cada dia que recebemos, do que fizemos e do que deixamos de fazer.

Aproveite, portanto, o seu dia. Carpe diem.

Wilson do Amaral