Bons costumes


Somos culturalmente moldados em relação a muitas coisas, e em especial a alguns costumes sociais de nossa época, lugar e grupo social. Não gosto da definição de que costumes coletivos sejam por definição “bons costumes”, entendo-os tão somente como costumes socialmente aceitos. Entendo também que cada um de nós possui um mapeamento mental de costumes e comportamentos para os quais acabamos aplicando qualificações de bons costumes e bons comportamentos, estejam estes totalmente alinhados, ou não, ao estabelecido, em média, pela sociedade. Como somos seres complexos mentalmente, sendo múltiplos e mutáveis em nossa essência mental, a cada instante já somos um pouco diferentes do que fomos um pouco antes. Neste teatro dinâmico da existência, as companhias acabam sempre sendo agentes de transformação em nós mesmos. Na realidade, entendo que ocorram sempre interações mútuas, onde todos atuam como agentes de mudança e são ao mesmo tempo, em contrapartida, objetos mutantes, horas de forma ativa, outros momentos de forma passiva, uns sobre os outros.
 
Desta forma, companhias mais próximas, aquelas com quem dividimos maiores relacionamentos, maiores confianças, maiores intimidades, ou mesmo maiores afinidades, acabam por naturalmente facilitar e fermentar nosso processo de transformação mental, e assim elas podem solidificar comportamentos ou alterá-los, e isto pode por um lado ser bom, nos aflorando ou reforçando características humanas e sociais, ou podem em contrapartida corroer ou corromper nossos princípios, costumes e comportamentos.
 
Escolher nossos amigos é importante, se não por outros motivos, pelo menos pela força natural que possuem em interagir com nosso complexo e mutável ser mental.
 
Como já dizia Paulo, “... as más companhias corrompem os bons costumes ...”. Concordo com Paulo, em especial se definirmos como bons costumes, não aqueles praticados ou repetidos simplesmente sem maiores racionalizações, e sim como aqueles que possuem por razão e qualidade maior, dar vida, luz, reverberação e brilho a dignidade humana e social, tendo como maior marca a elevação e a maximização da felicidade social, por um maior número de pessoas possível, por um maior espaço geográfico possível e por uma maior faixa temporal possível.
 
Más companhias devem ser evitadas, quando possível. Quando não for possível evitá-las, necessitamos de um maior cuidado e uma maior consciência, para evitar que permitamos, mínimas que sejam, fraturas ou trincas em nossos princípios humanos e sociais.
 

Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 04/08/2012
Código do texto: T3813851
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