Fugir do Passado
O que eu mais queria? Esconder-me do mundo. Fugir dos fatos, dos atos. Das lembranças, das dores, dos amores; dos beijos, dos sorrisos, dos abraços. Das brigas, das birras, das picuinhas. Daquele jogo em que se esperava vencer o melhor que nunca houve. Naquelas acirradas disputas de quem detinha maior razão. Quando ninguém tinha razão. Queria esquecer aquele orgulho infantil e estúpido que só nos fez mal. Gostaria de não ter dado trela a tanto que me foi dito. A tanta gente que só sabia fazer interferir. Se meter onde não eram chamadas. Palpitar quando o que menos queríamos ou precisávamos era de uma opinião. No fim o que sobrou? Somente dor, mágoa, arrependimento. A falta dos momentos bons. A tristeza sem fim pelos ruins. A vontade de superar tudo aquilo com o qual fui obrigado a aprender a conviver. A aceitar. A esperar que não mais se repita. Hoje sei que me amo demais. Mas amor-próprio demais faz mal. Nos faz pensar que somos os melhores, quando não somos; nos faz querer ficar sozinho, quando não podemos; nos faz magoar as pessoas que algo de bom sentem por nós, mesmo lembrando de tudo o que já nos fizeram. Vingança sem razão? Talvez. De repente apenas uma arma que encontramos para não mais permitir que sejamos apenas um joguinho. Um brinquedo na mão de alguém que quando não mais precisar apenas nos descarte. Como se o valor que sabemos ter, tenha se perdido. No tempo, no pensamento. O que eu mais queria era ter sido forte o suficiente. Não para aceitar que não tínhamos mais jeito. Mas sim para enxergar o quanto nos amávamos. E o quanto precisávamos ter lutado ainda mais para que não sobrasse apenas o fim. O doloroso fim. O adeus. O esquecimento. As lágrimas. O 'até nunca mais' que foi a única afirmação de ambas as partes que não seguimos à risca.