Nosso ódio.
Odeio o teu sotaque, odeio o tom rouco da tua voz. Odeio as verdades que diz e as mentiras que inventa. Odeio as tuas conversas e o teu silêncio. Odeio o teu olhar fundo nos meus, os teus desvios rápidos fingindo não me conhecer e o brilho que guarda nos olhos. Odeio a tua boca macia, os teus dentes alinhados, a tua língua ágil e os teus beijos lentos. Odeio os teus pés com ou sem meias, as tuas pernas cabeludas, os teus passos acelerados e os caminhos sem atalhos por qual passeia. Odeio as tuas unhas roídas, as tuas mãos mornas, os pulsos sem cicatrizes e aquelas veias aparecendo. Odeio os teus traços, a tua pele, o teu cheiro, as tuas manias, os teus costumes. Odeio os teus abraços apertados, a tua barba rala roçando no meu rosto e as tuas mãos frias encostando no meu corpo morno. Odeio as tuas piadas fracas, os teus perfumes fortes, aquelas carícias depois do banho. Odeio os teus escritos, os teus planos para o futuro, as tuas caretas engraçadas.
Eu te odeio, eu te odeio, eu te odeio - de um ódio que nunca tive por outra coisa.
Eu te odeio por inteiro mesmo sendo tão bonito, mesmo me encantando com as coisas que diz, mesmo te querendo sempre ao meu lado. Te odeio porque o meio-termo não existe para mim e também porque não posso amar-me. Te odeio porque sei o quanto estamos perto de nos transformarmos em apenas um.