Pirraça (Texto em resposta a um de Fernando Pessoa)

Fiz pirraça...

e mesmo incomodando muita gente...

trouxe a minha "pureza pueril" de mãos dadas comigo

e não a deixarei para trás...

Seguiremos juntas

até onde Deus nos permitir.

(Mônica Marques)

*************************************************

A CRIANÇA QUE FUI CHORA NA

ESTRADA-I

Fernando Pessoa

"A criança que fui chora na estrada.

Deixei-a ali quando vim ser quem sou;

Mas hoje, vendo que o que sou é nada,

Quero ir buscar quem fui onde ficou.

Ah, como hei-de encontrá-lo? Quem errou

A vinda tem a regressão errada.

Já não sei de onde vim nem onde estou.

De o não saber, minha alma está parada.

Se ao menos atingir neste lugar

Um alto monte, de onde possa enfim

O que esqueci, olhando-o, relembrar,

Na ausência, ao menos, saberei de mim,

E, ao ver-me tal qual fui ao longe, achar

Em mim um pouco de quando era assim.

A CRIANÇA QUE FUI CHORA NA

ESTRADA-II

Dia a dia mudamos para quem

Amanhã não veremos.

Hora a hora

Nosso diverso e sucessivo alguém

Desce uma vasta escadaria agora.

E uma multidão que desce, sem

Que um saiba de outros.

Vejo-os meus e fora.

Ah, que horrorosa semelhança têm!

São um múltiplo mesmo que se ignora.

Olho-os. Nenhum sou eu, a todos sendo.

E a multidão engrossa, alheia a ver-me,

Sem que eu perceba de onde vai crescendo.

Sinto-os a todos dentro em mim mover-me,

E, inúmero, prolixo, vou descendo

Até passar por todos e perder-me.

A CRIANÇA QUE FUI CHORA NA

ESTRADA-III

Meu Deus! Meu Deus!

Quem sou, que desconheço

O que sinto que sou?

Quem quero ser

Mora, distante, onde meu ser esqueço,

Parte, remoto, para me não ter."

Mônica Marques
Enviado por Mônica Marques em 21/07/2012
Reeditado em 17/11/2012
Código do texto: T3789773
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.