As vacas não vão pro céu
Onde está a maravilha? Onde está o assombro?
Onde estão as noites em claro pelas quais eu vivia?
("I Want My Tears Back", Nightwish)
Gostar de carros é como jogar granadas na camada de ozônio. Fumar nem tanto, é como só metralhar. Seja como for, os peidos do crescente gado destinado ao consumo humano são os maiores responsáveis pelos estragos na atmosfera. As vacas não vão pro céu. Mas também quem ia querer ir pro céu do jeito que estão ferrando com ele?
A Era Industrial poluiu o Paraíso. Posteriormente, o Capitalismo o dividiu em lotes para poder negocia-lo de forma mais democrática. Deus não está morto, mas tornou-se um mendigo sujo após a desapropriação. Hoje em dia pede esmolas na boca dos pastores evangélicos, e nem mesmo o Diabo quer ouvir falar dele.
Se as vacas contribuíssem com bifes para o benefício da fé eu acreditaria num Deus mendicante que faz passar sacolas vermelhas de feltro entre as fileiras de bancos das igrejas. Se as próprias vacas se sangrassem de boa vontade nos matadouros, entoando louvores enquanto se desossassem com cutelos afiados e extirpassem o colesterol de seus corpos através de dietas para que o mesmo não entupisse as artérias humanas, e se oferecessem seus meigos vitelos em abortos voluntários. Mas isso não acontece, e então todo o maravilhoso se vê impossível e não há disposição em mim para acreditar em nada que não seja um pedaço fúnebre de carne fumegando no óleo da frigideira. E o agradável odor de gordura adocicando o nariz falsificado de Deus, no sacrifício indireto de uma vaca que muge espiritualmente na bocarra azul de um fogão infernal.