VIRTUDE



A virtude é bela. Mas perseguir a virtude, pela simples virtude, é um desafio inglório. Como buscar ser virtuoso se me conheço muito pouco, se no fundo não sei exatamente o que é esta tal virtude, e muito menos o porquê algo é mais virtuoso que outro algo? Em geral, nunca nos esforçamos em perceber o que são valores e o como estes valores aparecem? Seriam elas naturais e imanentes aos atos? Seriam eles derivados dos atos e de seu alcance?  Seriam eles derivados tão somente de processo mentais que derivam em ultima análise do status neuronal que dá sistematização a minha mente? Valores seriam transcendentais? Valores seriam imanentes? Mas imanente a que? Em relação a que? Seriam reais ou subjetivos? Poderiam ser subjetivos e mesmo assim imanentes e naturais?
 
Como tentar levar uma vida de virtudes, se sequer me esforço em entender o valor que realmente atribuo as coisas, e mais importante ainda, o porquê atribuo este e não aquele valor a cada coisa?  Eu realmente atribuo os valores, ou eles me são impostos pela cultura, pelos preconceitos, ou pela moral vigente? Como posso valorar ações, comportamentos, atitudes ou mesmo apenas os pensamentos? Os pensamentos significam algo que realmente podemos valorar, ou sendo eles dinâmicos e fluídicos em sua essência, o pensamento em si não acarreta valores, e nem pode acarretar, nos permitindo a liberdade de pensar, livre de preceitos e preconceitos, e indiretamente de valores, e estes aparecem apenas quando defino posição de vida baseado nos pensamentos?
 
Na maioria absoluta das vezes preferimos fugir da responsabilidade e do trabalho de responder as questões acima. Na grande maioria das vezes preferimos viver o que a vida nos envolve, a ter de encarar, de frente, o porquê vivemos ou o como vivemos. Desta forma muitos de nós preferimos nos eximir deste “difícil e complexo” raciocínio, qual seja o de ter de nos expor, nem que seja apenas para nós mesmos, e acabamos preferindo nos esconder por detrás de alguma organização, secular ou religiosa, que nos “diga” o que devemos fazer, até a onde podemos ir, o que precisamos pensar, para que precisamos pensar, o que é certo e o que é errado, o que nos é válido agir, querer ou pensar.
 
Ao nos alinharmos a estes grupos, mesmo assim nos vemos incapazes de atender completamente as diretrizes, restrições, normas comportamentais e princípios filosóficos, e neste momento nos é mais fácil relaxar estes preceitos e dizer que não adianta ser fundamentalista, e assim acabamos defendendo certo “ecumenismo” de regras e adotamos uma aposição mais “equilibrada” e muito mais fácil de conforme nos interesse, momento a momento, caso a caso, nos alinharmos aos diferentes princípios grupais.
 
Somos humanos. Somos assim múltiplos e complexos. Não conseguimos nos entender e nos conhecer por completo. Não possuímos total domínio do que queremos e do como agimos, mas isto não pode ser desculpa para nos omitirmos da responsabilidade de buscarmos ser virtuosos, mas conscientes do que realmente entendemos como ter virtudes e o porquê de cada valor que atribuímos às coisas e aos eventos em que somos atores diretos, ou mesmo aos eventos em que indiretamente podemos induzir atitudes ou resultados. Para tal entendo ser necessário definirmos claramente para nós próprios tudo aquilo que entendemos como sagrado para nosso viver. Não me refiro a alguma sacralidade transcendental, mas sim a aquilo que definimos como importante para a dignidade humana e a felicidade social. Assim buscar uma vida minimamente virtuosa nos obriga a racionalizarmos o que nos é sagrado, o que é virtude, o que são valores, e não confundir valores com desejos e nem verdades com interpretações desta.

 
Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 17/07/2012
Reeditado em 17/07/2012
Código do texto: T3782143
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