A boca de Deus

A Boca de Deus

Imagine que para cada súplica que fizéssemos ao Alto, Deus se materializasse em forma de um anjo, e com cada um de nós conversasse, apresentando a solução dos nossos problemas. Isso não é impossível de acontecer. Há homens santos, que diante do seu alto grau de evolução espiritual, conseguem, sim, conversar pessoalmente com Deus.

Todavia, a Sabedoria Divina é infinita.

Afinal, se qualquer um de nós, diante de cada problema surgido, pudesse, pessoalmente, recorrer a Ele para obtermos uma resposta concreta, fisicamente comprovada, para as nossas aflições, a nossa vida perderia sentido.

Viveríamos mais em função da resposta astral do que da real compreensão daquilo que nos aflige. Perderíamos o mérito da busca da solução e o crescimento que deriva de todo o sofrimento purificador da nossa luta. As nossas frontes suplicantes ficariam incessantemente voltadas para cima, para o Alto, esperando o divino anjo portador da resposta esperada, e deixaríamos de enfrentar aquilo que nos atormenta, esquecendo, até mesmo, da mão amiga do próximo que nos apoia.

Não faz muito, vi uma das minhas filhas tentando desesperadamente engatinhar para pegar um brinquedo que estava a poucos centímetros de si. Minha reação foi imediata. Correr, pegar o brinquedo e entregar-lhe. Mas não o fiz. Pois, se assim o fizesse, o mérito não seria dela. Seria meu. E, em uma próxima vez, ela ainda não andaria, esperaria prostrada, suplicante, a mão do seu pai afastar de si o seu problema. Eu, então, mesmo com o coração apertado, confesso, fiquei murmurando incentivos em seu ouvidinho, e, em poucos segundos, com esforço, ela chegou, sozinha, ao brinquedinho e sorriu.

Deus, certamente, também faz assim. Para o mérito da conquista ser nosso, o sofrimento santificador é o peso da nossa espada.

Não imaginemos, todavia, que, diante das nossas súplicas, Deus permaneça indiferente. A Boca de Deus fala de muitas maneiras. Se o anjo não se materializa, não quer dizer que Deus não ouça e não fale. O Pai fala, por meio de muitas bocas.

Nunca esqueço um fato verídico ocorrido com uma pessoa próxima. Suplicou a Deus durante noites a resposta a um problema. Orou fervorosamente. Talvez haja esperado a chegada de um anjo com uma pronta resposta. Mas ele não lhe apareceu. Um dia, pouco tempo depois, já tendo se desapegado do problema, esperando vez na fila de um telefone público, ouviu parte da conversa do usuário que estava à sua frente. Ficou chocada, em profunda gratidão beatífica. Acabara de ouvir a resposta que esperava, por meio de um estranho, que conversava descontraidamente pelo telefone.

Era a boca de Deus, que fala de muitas maneiras. Por uma voz na multidão, uma frase escrita em uma carta ou no fundo de um veículo, e, principalmente, por meio da nossa intuição.

Porque Deus tudo vê e nunca nos desampara. Nunca duvide.

Pablo Stolze

Pablo Stolze
Enviado por Louhi em 16/07/2012
Código do texto: T3780840