Acordar Feliz
Já possuí muitos desejos, expostos ou ocultos, tímidos ou ousados, possíveis ou distantes, coerentes ou insanos, plausíveis ou inimagináveis. Sonhos que fizeram por demasiado tempo parte do meu ser, destacando-se a ponto de ofuscarem minha própria identidade e curiosamente, ofuscando-se a si mesmos.
Será isso? Somos nós a personificação de nossos próprios sonhos? Tão somente? Sem eles então se perde o sentido da vida? É frustrante assim pensar, sabendo que eles são passíveis de engano, da não realização e pior: da banalização.
Sonhamos com carros, imóveis, emprego, carreira, sucesso, amores, mas quando os conquistamos, quase que de imediato os substituímos por outros anseios e dessa forma, acabamos não desfrutando com prazer do tão almejado sonho. Por quê?
Por que esquecer profissional dos anos e anos de estudo que o fizeram conseguir a aprovação no curso que tanto querias? Dos obstáculos ultrapassados dia a dia na faculdade? Da correria em busca de um espaço no mercado de trabalho? Por que não recordar senhor de como fora árduo tocar o coração desta que hoje tomas por esposa? Das investidas, dos impedimentos enfrentados com intrepidez?
Por que deixar dificuldades irrisórias extraírem o brilho do essencial? Digo-vos não com pessimismo exacerbado, mas com olhos e ouvidos atentos para a realidade que nos cerca: Elas sempre existirão! Problemas vão e vêm todos os dias. Uns são resolvidos, outros não. No decorrer do tempo vão dando lugar a outros mais ou menos complicados. O fato é que sempre estarão presentes! Mas por assim mudarem, são meros figurantes da nossa existência e não devem resplandecer sobre o elenco principal, aquela parcela recorrente que está sempre ali e por isso é por vezes tida como enfadonha e aborrecedora. Devemos lembrar que são os protagonistas que nos envolvem em suas emoções fazendo-nos rir e chorar com eles.
Quanto aos meus sonhos? Não vou dizer que não mais os tenho. Na verdade sempre os terei e continuarão sendo constantemente cunhados e lapidados na minha fabriqueta de pensamentos. No entanto, não quero eu ter minha felicidade dependente de conquistas volúveis. Quero ser feliz apenas por ser. Quero que esse sentimento faça parte de mim tanto quanto os membros e órgãos que compõem minha fisiologia. Não quero que seja consequência do que me ocorre, mas sim o mover das minhas ações. Quero FAZER porque sou feliz e não apenas ser feliz porque FAÇO, para que não precise estar constantemente FAZENDO a fim de que a chama mantenha-se acesa. Não!
Quero valorizar o quê e quem tenho. As pessoas que me cercam, quero contagiá-las com esse mesmo espírito. Não quero minha presença aceitável, a quero desejada.
Quero poder ir dormir carregada de problemas, consciente que não serão resolvidos no breve espaço do sono e que ao amanhecer estarão todos ainda no mesmo lugar, mas sabendo que meu despertar será leve, pois a radiante alegria de abrir os olhos para a dádiva de mais um dia será maior para mim que qualquer problema. Eu quero todos os dias ACORDAR FELIZ!