Quem sou eu???

Ela chegou em casa, esgotada. Tirou o sapato alto, desfez a ma-

quiagem, soltou os cabelos. Num impulso arrancou todos os

acessórios e todas as roupas com uma força brutal. E nua, se

olhou no espelho. Percorreu cada imperfeição que via, desde o

alto da cabeça até os pés.

Insistentemente olhou, olhou, e já não sabia mais quem era. Ela

tinha aprendido que seu corpo não tinha o manequim considera-

do “padrão" para a sociedade. Ela tinha aprendido a ser loira, a

ser ruiva, a ser magra, a ser mais branca, ou mais morena, com

mais peito ou menos peito, de acordo com a “ditadura da moda”.

Só que no meio de todas essas coisas, a única coisa que não

ensinaram a ela é que... ela poderia ser ela mesma!

Então, depois de olhar para o espelho, chorou. Chorou de vergo-

nha, chorou por encontrar a si própria debaixo das roupas e de

todos os acessórios, que segundo os outros, a tornaria uma mu-

lher melhor. Chorou por reconhecer que existia a compulsão por

uma perfeição que não é real, mas que sozinha, não conseguiria

vencer. Ela chorou por não ser a Maria, chorou por não ser a

Bruna, chorou por não ser a Júlia, entre outras. Chorou por per-

ceber que ela... era ela mesma.

Em seguida, um silêncio tomou o lugar onde ela estava, e um

vento subiu em seu corpo frio. Ela não suportaria mais aquela

vida de sustentar alguém que ela não era. Na verdade, ela não

suportou mais aquela vida. Passados cinco minutos, foi para o

quarto e, tremendo, abriu a janela. Até que infelizmente, tomada

por seus conflitos, se jogou do décimo andar.

Até hoje as pessoas se perguntam, o que aconteceu com ela. Ela

parecia tão cheia de vida, era tão linda, tinha uma linda carreira.

Mas eu sei que não foi ela que tirou a própria vida e sim a menti-

ra. A mentira pregada pela moda, pela televisão, pelas revistas.

A mentira que nós tantas vezes aceitamos como verdade e re-

produzimos como um papagaio reproduz uma fala. A mentira

que é vendida em pacotes tão bonitos, cuja embalagem não diz

como você estará no fim do consumo. A mentira que invade

nossos olhos quando ainda não aprendemos a olhar como Deus

olha; quando somos incapazes de perceber que toda a sua cria-

ção é perfeita, única e incomparável. Que Deus nos ajude a co-

nhecer a verdade e a nos conhecer de verdade. E que a morte

física, mental, espiritual ou emocional não nos alcance pelo sim-

ples fato de ouvirmos o mundo e não ouvirmos o que Deus fala

sobre nós.

Marcele White
Enviado por Marcele White em 06/07/2012
Reeditado em 06/07/2012
Código do texto: T3762968