Tudo que tenho contra Descartes
O respeito que Descartes inspirou e de alguma forma ainda inspira dentro do establishment filosófico tão somente revela, tão apenas expõe a mediocridade do alcance humano. COGITO ERGO SUM é, a meu ver, a mais imbecil das constatações. Qualquer coisa que se faça servirá de afirmação para a existência, desde formular complicadas expressões algébricas até aliviar as tristes tripas numa retrete.
Uma das razões para minha antipatia, além do fato de Cartésio ter sido o primeiro grande sistematizador (leia-se ‘redutor’) do pensamento, é a idéia hipócrita e suja que ele contribuiu em muito para disseminar de que o homem está acima de tudo e de todos. E quando se diz ‘homem’ quer-se dizer o caucasiano branco da cara pálida – e nenhum outro. Dominando a mentalidade do Séc. XVII com sua doutrina, Descartes, através de uma lógica determinantemente exclusora, transformou a etnia européia em senhora inquestionável do universo. Seu raciocínio simplista rezava: se não pensa, não existe, sendo portanto incapaz de sentir. Tal regra se aplicava a objetos, animais e inclusive seres humanos de raças consideradas inferiores, cujas reações eram entendidas como meros reflexos desprovidos de base sensitiva – visto que seus demonstrantes não dispunham de qualquer mecanismo de cognição, não sendo de tal modo criaturas privilegiadas de Deus. Imagine-se agora a miríade de sofrimentos que um tal pensamento não possibilitou. Da escravidão dos negros africanos ao extermínio dos indígenas americanos, das experiências de Pavlov à guerra do Vietnã, tudo teve como fundamento a contribuição do raciocínio cartesiano para o desenvolvimento da ‘humanidade civilizada’.
Alegam que em seus escritos há rompantes de gênio, e não duvido disso. Mas sou a favor de sua completa execração. Basta pra mim o que Voltaire disse dele: que teria afirmado que dois e dois são quatro porque Deus quis. É um belo exemplo da sua lógica sistemática, redutora e, por fim, pueril. É suficiente analisar por algum tempo suas feições de indigestão para experimentar imediato asco. Entre seus textos e a revista Mad, fico com a Mad. Porque tudo que é conclusivo deixa de ser humano – e porque Descartes não foi humano, foi um robô, definindo como máquina tudo que pôde ter dentro do limite do seu alcance. Nem mesmo Hitler foi tão pernicioso, pervertido e cruel.
POST SCRIPTUM BÊBADO
(ouvindo Diamond Head):
The Prince. Tem um solo nesse som que me transporta para o Apocalipse. É uma contagem regressiva para o fim do mundo.
E enquanto observo os pontos de infecção de bitucas em meu quarto, com os tênis sujos sobre o colchão sem nenhum lençol, eu sei por trás da minha barba que o fim do mundo sempre foi agora.
Isso é pura poesia. Um verme também se tornaria poeta se fosse nutrido com a ração correta. Tenho me alimentado tempo demais com essa ração idiota de sonho.
Sim... dormir. Amanhã o pasto continuará o mesmo.