Piorei com o tempo
(Resolvi escrever isto apenas pra deixar registrado essa minha conclusão. Quem sabe, algum dia, alguém próximo leia pra me conhecer um pouco mais, apesar de saber que ninguém próximo lê o que eu escrevo, nem mesmo minha esposa.)
Piorei com o tempo.
Não digo na aparência não, pois essa é inevitável, é o normal; mas com relação às minhas qualidades morais.
Fui um jovem idealista que acreditava na verdade, na sinceridade, na justiça, na honestidade... Mas com o tempo tudo foi se perdendo. Quantas e quantas vezes tive que mentir, tive que ser falso. Quantas vezes meu senso de justiça foi ridículo, por estar nervoso, em situações bobas.
Acho que Deus me testou em várias situações, e sinto que fui mal em muitas delas. Tento me conservar honesto, mas peço a Deus pra me livrar das tentações, tenho medo de não passar também nesse teste e espero não ser testado.
Falei em Deus, mas na verdade minha fé é inconstante, é como filho adolescente com os amigos em um parque de diversão enorme e lotado, muito fácil de perder, mas sei que tenho que encontrar uma hora, o problema é que com ela não dá pra marcar um local, não dá pra anunciar, ela não tem celular...
Piorei com o tempo.
É ruim chegar a essa conclusão, mas ainda é melhor achar que piorei do que pensar que nunca fui realmente bom, pois apesar de ter acreditado e vivido sobre bons preceitos, não havia grandes problemas e é bem mais fácil agir corretamente quando está tudo bem. Pensar que nas poucas vezes que fui testado, em coisas ainda pequenas, eu não saí muito bem, é ver que, na verdade, eu não piorei, mas que nunca fui realmente grande coisa. Pensando assim, ainda é melhor dizer que piorei com o tempo.
Se bem que em alguns aspectos eu piorei mesmo. Eu não era um “cara” tão frio quanto sou hoje. Parece que a cada dia me torno mais indiferente aos problemas alheios. Sinto ainda, raras vezes, como um sopro de esperança, mas hoje é bem mais fácil virar as costas, fechar os olhos, seguir...
O pior é que quanto mais eu vejo os erros em mim mais eu os vejo nos outros. Passei a não acreditar muito nas pessoas. Perdi minhas referências, vi que idealizei meus heróis. Hoje não admiro ninguém. Por um lado isso é bom: Andei um bom tempo de mãos dadas com a vaidade e com a ambição, querendo ser, querendo ter. Ao perceber os erros, de forma tão geral, vi que não fazia tanto sentido. Por outro lado é ruim: Não sei mais ouvir conselhos, por não saber a quem pedir, e sei que tenho uma necessidade enorme deles.
Piorei com o tempo.
Mas sei que perceber os erros é um enorme passo.
Tento ser um bom amigo, um bom filho, um bom marido, um bom pai...
Com relação às minhas filhas, com tantos erros, não tenho a pretensão de ser um modelo pra elas, ao contrário, melhor não me tomar como exemplo, mas apesar das minhas falhas, da minha indiferença, tento ensiná-las a ter um bom coração. Apesar da minha fé inconstante, tento ensiná-las a acreditar cada vez mais em Deus. Apesar da minha vaidade tento ensiná-las a serem pessoas simples e que todos merecem o nosso respeito. Apesar da minha ambição, tento ensiná-las que muitas coisas importantes a gente não compra com o dinheiro, como o amor das pessoas, a paz e a tranqüilidade de uma vida sem remorso, entre tantas outras...
De qualquer forma, só sei que piorei com o tempo.