:::: Desnuda ::::

É incrível como as coisas que você tanto odiava, são agora as coisas que você gostaria de ter novamente. Eu passo minutos olhando a tela inerte do meu celular e, por alguma razão indizível, eu espero. Sempre espero. E o pior é que sei que é espera perdida, vã. Não sei se está doendo, depende do que as pessoas conhecem por dor, depende também se o que você sentia era igual ao que eu sentia. Dores são diferentes. Amores também. Cada um sente de um jeito, cada um ama de um jeito. Esse é o bom da vida, não seria legal ter alguém completamente igual a você. Mesmos pensamentos, mesmos sonhos, mesmas manias. Que saco, né?

Eu detestava seu jeito moral, sempre me dizendo o que era certo ou errado, sempre provando que o tempo era curto e passava e que poderia eu poderia te perder, numa curva, numa chuva. E eu perdi numa frase dita pelo avesso. Estranho? Real. Mas eu perdi, acredite, sendo eu mesma. Num momento de loucura, um momento que você não aguentaria para sempre. Eu não poderia cobrar tanto, eu não sei medir minha intensidade. Eu detestava a forma como você sempre ficava parado, esperando, quieto. Eu detestava o teu silêncio, até porque o meu já era abruptamente ruim. Eu detestava o fato de você ser tão certo, e tão perfeito e tão você e não notei enquanto você sumia no vento. Eu perdi um pouquinho cada dia.

Eu detestava o fato de você me cobrar uma ligação e agora é sua voz que me faz tanta falta. Eu odiava suas questões intelectuais e a maneira como seus poemas me atacavam. Porque você sempre foi a minha verdade jogada na cara, você sempre me mostrou aquilo que eu sou e não queria admitir. Você foi meu espelho e eu quebrei. Ninguém aceita ser desvendado assim.

Você desmascarou minha alma, me fez colocar os pés no chão com uma força brutal, a qual eu não estava preparada. Não, não estava preparada para pousar assim tão de repente. Eu ainda voava, nos meus pensamentos, nas minhas utopias, no meu mundo.

Você chegou e mudou tudo e eu ainda achava que tudo estava normal. Não estava, você virou tudo de ponta cabeça, remexeu meus ideais, mudou minhas rotas, me virou do avesso. Me fez chorar como uma crise cheia de medo, cheia de fantasmas no escuro. Você despertou aquilo que eu mais temia. A solidão.

E esse texto não é um meio para atacar você, nem arrependimento. Só me arrependo de não ter mudado enquanto houve tempo. Me dói não conseguir te arrancar dos meus sonhos, nem das minhas histórias, tampouco do coração. Mas fique ali, sempre. Fique. E me permita que te veja, mesmo que por uma breve réstia de poesia. Não estou escrevendo para culpar ninguém, na verdade, admito que o erro foi meu. Foi meu erro não ter te amado quando você permitia.

Ana Luisa Ricardo
Enviado por Ana Luisa Ricardo em 21/06/2012
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