O sujeito deslocável

     Procurando afastar-se da ideia que se utiliza da linguagem para explicar o papel de um sujeito qualquer, e que dessa maneira o define a ponto de denotar-lhe um ar de palpabilidade, confiabilidade e constância, consistências suficientes para gerar ações e respostas, entende-se que o sujeito é frequentemente considerado o ponto de partida daquelas ações e, portanto, onde houver iniciativa, haverá também um sujeito. Quando faz-se uma referência a este, o mesmo torna-se um objeto, como já mencionado, um objeto relativo à subjetividade cuja definição descrita há pouco não remete à subjetividade que significaria tudo aquilo que diz respeito a este sujeito, mas a subjetividade como espaço de atuação, quando a partir de seus limites construídos pela habituação aos estímulos, suas combinações e as relações destes com o próprio processo estimulante, proporciona uma “superfície” de deslocabilidade que de tão intrincada e autônoma, gera dúvida sobre a sua natureza passiva ou ativa. Todavia, ao passo que os estímulos criam circuitos e curto-circuitos em função de sua propriedade inerente da estimulação, onde os impulsos “saltam”, desaceleram e são reverberados sob determinadas condições, indubitavelmente gera-se uma resposta, não necessariamente motriz. Por mais estranho que a discussão da localização do sujeito “ontológico” e não linguístico no seio da subjetividade aproxime-se muito de uma explicação científica atual para o processo envolvente do cérebro, das redes neurais e da consciência, não nos deixaríamos enganar apenas por este exemplo reducionista. Assim, admite-se que a atividade cerebral é muito mais complexa do que a sua própria explicação, esta facilmente percebida como unitária, temporal e relativizada, e que tal atividade seria passiva porque é incompreensível. De tal forma, não pode haver um sujeito que não se encaixe na própria ação, porque ele não a justifica enquanto sujeito dito “pensante”. O sujeito deslocável, portanto, é a expressão principal da instintividade que aborta a consciência antes mesmo que ela tenha uma existência iluminada e conhecedora de todas as coisas, é a percepção da ação (entende-se aqui resposta) no seu início, início que é aferido no momento daquela percepção e, que por estar “relacionada a”, encontra-se sempre “atrasada” quanto à realidade dos fatos na razão. O sujeito deslocável é a percepção de uma atividade na subjetividade e, que por tal motivo não se torna ativo perante a ação, mas ativo apenas em relação àquela percepção, e deslocável segundo o padrão de atividade nos pertuitos construídos por uma estimulação viciante.

 Trecho do livro "O Vício de Mnemosyne"
 Leonardo Faria


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Enviado por mindasks em 21/06/2012
Reeditado em 22/06/2012
Código do texto: T3735834