Silêncio
Há quem prefira o silêncio. Quem ache que não falar nada é o melhor a se dizer. Há também quem se faz calar, engole as palavras à seco, no talo, sem nenhum copo d'água. É um mundo cheio de barulho, de passos, de gritos, choros, risos, olhares, e aquele silêncio pequeno de uma simples coisa não dita, se torna ensurdecedor. Eu só prefiro o silêncio quando não há mais nada importante a se falar, ou ninguém com quem se importe para se dar atenção. O silêncio da resignação traz paz, mas o silêncio inquieto deixa marca, esfria, esquenta, remexe de um lado pro outro nas cobertas e te dá olheira. Silêncio dá calafrio, dá coceira na nuca. Dá saudade do que nem foi dito, daquilo que não se alcançou. Silêncio aproxima o medo, tira o teto e chove na cabeça da gente.
Faz caminhar por longas distâncias, pensando em algo que traga conforto, e depois nos faz correr, correr e correr, só pra tentar não pensar em mais nada.Silêncio manda o olhar pra longe. Bem longe. É pedra, é aço. Uma barreira pela qual não se vê o que há depois.
Já me disseram que as palavras tem poder. Acho que o maior poder está na importância que damos pras pessoas que dizem, ou omitem, essas palavras. Silêncio tira a importância das expectativas, tira o charme da desafinação, faz o teto do quarto parecer interessante até demais. Sorte daqueles que já ouviram e disseram tudo que suas almas pediu, e podem se confortar no silêncio merecido de quem já fez mais do que passear por essa vida. Milhões de pensamentos por milésimo de segundo, até que se aprenda que o que importa não é o você quer ouvir, e sim o que você tem a dizer pra quem se importa.
Primeiro, se deve aprender a se importar.
Silêncio dá abertura para interpretações demais, pensamentos demais e 'talvez' demais. E se ponto de vista cada um tem o seu, eu sou o mundo todo em mim.
E meu mundo hoje acordou gritando.