Metamorfoses
Dizem que tudo muda o tempo todo e que tudo se transforma, as vezes de maneira quase imperceptível, mas se transforma.
Por que eu não consigo perceber tais mudanças?
Todos os dias, pego minha bicicleta amarela, a quem chamo carinhosamente de Berenice. Sim gosto de dar nome a objetos eles acabam se tornando mais íntimos da gente quando lhe damos um nome. E a Berenice é minha fiel companheira de estrada.
Monto na Berenice e faço todos os dias o mesmo percurso. Levo meu filho à escola e depois retorno para buscá-lo.
Enquanto vou pedalando sentindo a brisa contra meu rosto, vou admirando a paisagem e todos os dias a paisagem é a mesma, o que muda é o clima; dias de sol, nublado ou chuvoso, mas a paisagem é a mesma de sempre, o cheiro é o mesmo, encontro até mesmo as mesmas pessoas, nem sempre elas traçam o mesmo destino que o meu, mas fazem geralmente o mesmo percurso. Algumas param antes de mim, outras seguem mais adiante que eu, ou simplesmente estão na parada de ônibus.
Nada parece mudar o tempo todo como dizem. Tudo parece estar lá! No seu lugar, as mesmas árvores, o mar, as dunas a vegetação, tudo. Tenho até a impressão que as mesmas borboletas atravessam a minha frente, nas mesmas cores, ou será que sou eu que vê as mesmas cores nas borboletas?
Olhando para meu lado esquerdo está o mar, sempre olho para o mar. É certo que ele às vezes muda o seu temperamento, assim como eu. Tem dias que ele está sereno, com ondas que espumam na areia branca, outras vezes está revolto com suas ondas se encrespando querendo engolir a praia, mas ele está lá em seu habitual cotidiano feito eu.
Pode ser que o cotidiano é que me cegue diante das mudanças.
Pensando melhor, até enxergo certas mudanças em mim, uma ruga que me marca a face que ontem não estava lá e hoje está, ela mostra que o tempo não se compadece e ele deixa suas marcas em nós humanos. O meu corpo também apresenta mudanças, já não é mais o mesmo de outrora.
Sim, são mudanças, imperceptíveis as vezes aos olhos de quem se vê todos os dias e se acostuma a não se perceber.
Me pego pensando comigo mesma que o mundo gira, mas eu continuo estagnada no mesmo lugar, não girei junto com ele.
Talvez ainda, eu imagine o mundo como uma eterna roda gigante e a vida como uma montanha russa, cheia de curvas fechadas, linhas retas, altos e baixos.
Nesse parque chamado vida, as vezes você se diverte, outras vezes você sente medo e apreensão e até dor de barriga diante de uma grande descida ou de uma grande subida.
E é nesse grande parque, onde muitos de nós vivemos numa platéia e não num palco é que eu preciso me encontrar, achar-me nesse espaço e começar a perceber as mudanças.
Viver minhas metamorfoses e estar ciente disso!
Patrícia carpes Mackowiecky