DESAMBIENTAL
O céu é seu telhado
Azul ou acinzentado
No dia o sol é sua luz
A noite a lua reluz
Não há paredes na sua casa
Em dias quentes é uma brasa
Em dias de frio daninho
Parece do Polo vizinho
De chuva é seu banho
De pingos de todo tamanho
O calor é a toalha
Que enxuga o corpo tralha
A cama é papelão
Jogado no chão
Um plástico reciclado
Cobre o coitado
Come o que aparece
Qualquer coisa o apetece
Defeca no mato
Não limpa o fato
Amigo apenas o cão
Que também não é são
Os dois unha e carne
Até que um deles desencarne
Na morte será enterrado
Num buraco qualquer
Não será velado
Por alguém sequer
Esse é o retrato
Do homem que de fato
Preza a sustentabilidade
Reduz, reutiliza, recicla
Sem solidariedade
É uma vida dedicada a preservação
Nada consome deste chão
Passa ao largo de qualquer questão
É da vida abstenção
Deveria servir de exemplo
Aos salvadores do planeta
Que de dentro de seus templos
Resolvem tudo com canetas
Deveriam sair pelo mundo sem receios
Esquecendo seus devaneios
Viver a margem do progresso
Para quem sabe, não pregar o retrocesso
Há milhões de desvalidos
Que nada consomem
Não tem vida de homem
São fantasmas, são esquálidos
Reduzir a avareza
Reutilizar a riqueza
Reciclar a frieza
Recusar a pobreza
Os 3 R’s seriam quatro
A peça da vida
Um novo teatro