DESAMBIENTAL

O céu é seu telhado

Azul ou acinzentado

No dia o sol é sua luz

A noite a lua reluz

Não há paredes na sua casa

Em dias quentes é uma brasa

Em dias de frio daninho

Parece do Polo vizinho

De chuva é seu banho

De pingos de todo tamanho

O calor é a toalha

Que enxuga o corpo tralha

A cama é papelão

Jogado no chão

Um plástico reciclado

Cobre o coitado

Come o que aparece

Qualquer coisa o apetece

Defeca no mato

Não limpa o fato

Amigo apenas o cão

Que também não é são

Os dois unha e carne

Até que um deles desencarne

Na morte será enterrado

Num buraco qualquer

Não será velado

Por alguém sequer

Esse é o retrato

Do homem que de fato

Preza a sustentabilidade

Reduz, reutiliza, recicla

Sem solidariedade

É uma vida dedicada a preservação

Nada consome deste chão

Passa ao largo de qualquer questão

É da vida abstenção

Deveria servir de exemplo

Aos salvadores do planeta

Que de dentro de seus templos

Resolvem tudo com canetas

Deveriam sair pelo mundo sem receios

Esquecendo seus devaneios

Viver a margem do progresso

Para quem sabe, não pregar o retrocesso

Há milhões de desvalidos

Que nada consomem

Não tem vida de homem

São fantasmas, são esquálidos

Reduzir a avareza

Reutilizar a riqueza

Reciclar a frieza

Recusar a pobreza

Os 3 R’s seriam quatro

A peça da vida

Um novo teatro

Arnaldo Ferreira
Enviado por Arnaldo Ferreira em 20/06/2012
Reeditado em 20/06/2012
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