quebro tempestades

Eu quebro a tempestade, qualquer uma. Aquela dentro do copo, da nuvem, de si. Quebro todas as tempestades como se houvesse um motivo maior, como se o mundo fosse me esmagar a qualquer momento. E ele me esmaga. Com todas as ruas, todos os prédios, todos os lustres - tudo cai sobre mim e eu não consigo manter o peso desse espaço em branco que me corre os olhos. Eu vivo numa sarjeta que se encontra quando se está perto do fim, quando se está indo mais longe do que dá. E você acaba indo a lugar algum. Tudo foge dos meus dedos, os desejos vazam para os lados da janela e eu nem sei o porquê. É engraçado como é cinza todo dia aqui, não importa se faz Sol ou se faz Lua, sempre fica assim. Parece que algo lá em cima está prendendo a chuva com toda a força que tem, prendendo até mais que isso: a minha vida inteira em mosaico. Nada se encaixa, nada se conforma em ficar atrás do ator principal. Mas eu ainda quebro tempestades, eu procuro o que nunca vou achar. Eu procuro músicas sem melodias, romances sem finais felizes, inícios sem fins; mas nunca acho o que quero. Respiro, respiro e respiro de novo. Nunca tomo o ar suficiente, eu quero mais. Mesmo não podendo, mesmo sendo mutilada por estrelas pontiagudas. Essas estrelas me entram como se fossem minhas, como se um dia eu fizesse parte do céu. Talvez eu faça. Sim, talvez eu faça parte de algum livro best-seller que tudo dá certo, de guerras e mais guerras que ninguém perde. Mas fica na impossibilidade de acontecer. Eu fico presa com sentença de morte e continuo indo para frente mesmo sem saber onde vou chegar. Mas ainda quebro tempestades, eu ainda derroto os marés atrás de planetas distantes, eu ainda viajo na esperança de achar pedra rara. E o frio no estômago, a vontade de dizer não e a fala informal que me escapa às vezes, tudo junto na bagagem. Eu quero juntar o preto com o branco, o azul com laranja, o vermelho com verde. A terra se abrir e ver a lava me corroedo por dentro, por fora. Por onde for. Na banca de jornal, eu veria o mundo se jogar na tela da TV. Querendo mais, respirar, respirar e respirar. Nunca soltar o ar, nunca largar o balão e ver ele voando sem controle. E eu não vou largar o meu balão nem ir atrás de rostos que me fazem perder a linha da sanidade. Que linha? Nunca tive. Sem linha, sem balão, sem teto e uma garrafa de coisa qualquer na mão. Tento juntar todos os trovões, as chuvas, os granizos e só vejo faísca. Mas eu sou a faísca. Apesar de tudo, ainda quebro tempestades. E me quebro junto com elas.

Beatriz Adrivin
Enviado por Beatriz Adrivin em 17/06/2012
Código do texto: T3729450
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