O Grande Lago

"À três pessoas que um dia levantaram maliciosamente minha cruz... obrigado por me darem a chance de morrer e ressuscitar. Que experiência!!!!

Quando fitamos a chuva derramando convulsivamente seus gritos através de uma vidraça qualquer, recostamos a cabeça sobre ela, levados a pensar nos caminhos e transformações aos quais somos submetidos nesse árido campo de relacionamentos que se formam nas veredas do viver. Nossos valores pessoais, nossas intenções, ações, prioridades, enfim, tudo que nos é relevante, encontra-se numa desregulada e inflexível balança, que, em suas compensações embotadas, não relevam e nem revelam com exatidão o peso das qualidades que possuímos. Assim, como todos nós, são aqueles que se arriscam na tentativa de criar um futuro brilhante diante das lentes dos olhos do futuro, mesmo quando essa realidade é inexistente no coração.

Imagino nossa vida como um amplo lago de águas alarmantes, por onde passam ventos turbulentos, formando ondulações em nossa face espelhada por um céu que muda de cor várias vezes por dia; assim como mudamos nossas convicções diversas vezes devido à influências que permitimos nos tocar e fazer mudanças em nós. Tocam-nos, nos moldam, estruturam e desestruturam quem éramos não muitos segundos atrás. Vejo seus corações, tronos aos quais – tenho plena certeza – que Deus sente-se feliz e é glorioso reinar. Há em nossas almas o tão vivificante “instinto”, como uma centelha sagrada, aquela faísca que inicia a chama azul, a mesma que desperta o desejo pela felicidade, e que somente os lábios da divindade é capaz de soprar.

Existem coisas entre a confiança e a descrença que não serão explicáveis sem lágrimas, nem pensamentos sobre o destino que facilmente se moldarão aos nossos modelos já estabelecidos. Verdade é que, há momentos em que “compreender” será a bandeira com a face da paz a falar por ambos os lados, e, quando compreendermos as razões que um ser humano estabelece como regra de conduta, faremos guerra com nossa presunção, e nesse exato momento perderemos qualquer direito de colocar medidas no próximo, incitar julgamentos precipitados e usar de misericórdia, assim como Deus faz. Em nossas linguagem decaída, compreender sempre foi mais difícil que punir.

E assim, não há em meu coração sentenças contra vossos caminhos, não trago mágoas pelas injustiças sofridas, ao passo que tenho a mente aliviada por saber que – contra minha vida – não há sentenças tampouco. Quando soube de todas as palavras dirigidas contra mim, não fiz questão de rebatê-las. Não procurei nomes nem responsáveis. O perdão nos leva ao lago da misericórdia e compaixão, como pequenos peixes a descobrir a imensidão límpida de sua eficácia. O verdadeiro perdão não está condicionado ao egoísmo de reter sempre a razão; ele acontece mesmo sem saber os reais motivos que o estimulam. É mesmo um contraste o mundo – e o nosso mundo. Assistimos a ausência do amor destruir cruelmente todos os bons sentimentos humanos, esse nosso grito de protesto muitas vezes parece mudo ante os trovões da insensibilidade. Mesmo assim, gritem seus gritos, faça acontecer em vossas vidas as mudanças que esperam encontrar nas outras pessoas, e em algum lugar pleno de felicidade, repousará as sementes da esperança plantadas por vossas mãos. Nossas feridas trazem em si a essência da cura. Devemos deixá-la acontecer.

Lembro-me de seus rostos como alguém que aprendeu a sorrir, verdadeiramente, sem ter de negociar com os caprichos vacilantes da aparência hipócrita que muitos se submetem apenas por ambicionarem a aceitação alheia; e manter essas aparências consiste em alimentar o campo de batalhas das ilusões que se trava nas vidas dos seres humanos. Não quero que sintam vergonha por minha causa; meu desejo é que entendam os propósitos de Deus e que estes estão além dos caprichos do homem. Não podemos amaldiçoar as pessoas que partem para outro lugar. Não podemos usar açoites quando as pessoas decidem nos deixar. É uma coisa chamada liberdade, e esta gera uma perda dolorida que alguém um dia terá que aprender a vencer. Entenda isso como cura para o erro cometido e não ameaça ao ego. Pois bem, temos que prosseguir, apesar de divergirmos quanto aos meios que usaremos para prosseguir nessa tão sublime jornada; porém, feliz estou, sabendo que os meios já não são tão importantes assim: se todos batalharmos pela mesma causa – a do amor e do respeito- chegaremos lá independentemente das dificuldades!

O sol da eternidade raiou no limiar da noite escura à qual, um dia passado, éramos ocultados por ela. O olhar do amor nos encontrou, nos aqueceu, inflamou-nos a ponto de desejarmos o fim do que era mortal, e inalássemos o vapor incontestável da imortalidade. Aquilo que amamos não deixamos morrer. Deus soprou em nós o ar cálido do Seu amor, e por isso, podemos amar uns aos outros além da desigualdade que, às vezes, nossos corações inventam; sem contar a lente desigual da condenação a qual insistimos em usar. Meu desejo é que cheguem tão longe quanto puderem, e espero que cheguem para que eu possa seguir seus exemplos. Há um lago transparente em nosso olhar que ainda evitamos expor, já que ele reflete de fato o que trazemos na alma. Todos têm essa alma sedenta de aprovação e apreço. Não nos feriremos mais, nem responderemos às intrigas de um momento obscuro, criado por nosso próprio senso de justiça. Esse perdão é uma fonte viável a todos nós, e, vez por outra, nos encontraremos a buscar seu refresco e refrigério nos momentos em que o sol queimar além do que podemos suportar. Lembre-se de mim em vossas alegrias que o mesmo farei; e já o tenho feito.

Nossas balanças se descontrolam e as medidas se contradizem. Insistimos no erro, às vezes. Acontece com qualquer um. Por que insistimos em tornar o céu do nosso próximo tão negro quando a própria escuridão? É o fundo do lago que escondemos do mundo. Não do lago das misericórdias, e sim dos lagos negros do nosso egoísmo e condenação. Ondulações... Isso nos lembra como somos imperfeitos, tão frágeis como folhas numa ventania incontrolável de outono. Obrigado por me permitir compartilhar da vossa presença em preciosos momentos de glória. Amizade é um diamante sujeito à arranhões, mas, que, quando se é verdadeiro, não perde seu imensurável valor. Parou a chuva e os gritos do trovão... restou o lago límpido, mais cheio e mais azul ao refletir o céu aliviado. Peço perdão por qualquer falha que possa ter cometido com vocês. Os tenho dentro do meu coração. Estou indo para outro lugar, e dizendo um breve adeus, fico com a imagem dos sorrisos, o que me conforta.

Não peço que aceitem...apenas que entendam.

Karlos S Augusto
Enviado por Karlos S Augusto em 15/06/2012
Código do texto: T3726478