A Plenitude da Inutilidade
O mundo me fez esse zumbi. Isso, de me sentir cada vez mais mortificado depois de algo que posso chamar de "picos de existência".
"Falar ao telefone, nos dias de hoje, só aproxima a distância entre as pessoas".
Chove. Está frio. É junho. É madrugada.
"Conseguindo ser menos profundo que uma frigideira".
Angario a potência de um dia miserável me mantendo acordado a essa hora em troca de alguns pensamentos puros, meus. O triste é que o próprio pensamento no que me espera no dia de hoje já anula qualquer puridade que eu pretendo ter.
"Tão raso que a lama tem que subir muito pra alcançar".
É que estou preocupado cada vez mais comigo mesmo. Me tornei tudo o que repudiava. Me tornei tudo o que não queria. Morri em vida. De um impulso a outro, ladeira abaixo fui.
"Vazio de xoxota de freira é pouco. Essa estagnação mental ainda não tem nome".
Hoje se sinto frio é o lençol freático que me cobre, de tão no fundo do poço que estou. Não confunda isso com tristeza ou autocomiseração. Não. Alcancei um cinismo e uma aura de aleatoriedade que a maior parte das coisas que faço aqui são sentidas em outro eu, em outro espaço-tempo, em outro universo.
"Há tanto tempo com as bochechas arrimadas nas mãos que daqui a pouco elas cobrirão os olhos".
Já não faço mais parte da minha própria história.
"Vida é aquilo que acontece quando se é filho único".
Mas não é bem assim com as pessoas do meu círculo. Elas ainda sentem. Elas ainda se importam. Elas têm ideais, ambições. Sofrem por amor, por bad hair day. Sofrem com provas de faculdade, com picuinhas trabalhistas. Eu sofro com a ausência de tudo isso.
"Queria que minhas folgas coincidissem com a folga dos pulmões das pessoas com que eu moro".
Dizem que não, que não é assim. Que não estão exatamente bem. Não sou ninguém para diminuir o sentir alheio, mas eles estão tão cegos, tão empedernidos em pontos de vista tão diminutos de pseudo-niilismo que chega a ser cômico.
"Cara, que vontade de matar um... Acho que quando chegar o dia que eu tiver a mais cristalina certeza de que nada vale a pena, vou esfaquear essa cambada de filha da puta convulsivamente antes de meter um balaço na têmpora...".
Minha vida tem se resumido a odiar, ficar perdido, me sentir vazio, fazer cagadas, abandonar planos e dizer "eu avisei".
[...]
A plenitude da inutilidade.
Porque ruim não é perder algo essencial. Ruim é perder a essência de algo.
10/06/2012
Inocentes - Só a Raiva Vai Nos Salvar.