Você já sentiu como se nada fizesse sentido?
Você já sentiu como se nada fizesse sentido? Já sentiu como se tudo estivesse perdendo a cor e o brilho? Então você sabe pelo que eu estou passando. Sinto como se nunca tivesse amado ninguém de verdade. Sinto que meu mundo sempre foi rodeado de mentiras, ilusões e que no final, eu sempre estive sozinha. Eu fui meu próprio ombro na hora da dor. Eu mesma sequei minhas feridas. Quando eu estava num dos piores dias, eu mesma me aqueci. Eu juntei minhas pernas contra meu peito e chorei até não ter mais forças. Eu enxuguei minhas lágrimas e sorri com minha própria piada. Sempre fui eu que fiz tudo por mim e pelos outros. Eu dei colo a quem me virou as costas. Eu fiz sorrir alguém que nunca tinha visto na vida. Eu beijei um desconhecido só pelo prazer de dar prazer. Eu me joguei de cabeça numa paixão e não consegui me perder. Tive nojo de alguém e já adorei abraçar um gordinho. Já recriminei, mas também ajudei. Já ajudei um velhinho a atravessar a rua e segurei os livros do cara que vinha cansado no ônibus. Já liberei o lugar em local que não tinha prioridades para idosos e sorri ao ouvi-lo me agradecer. Eu sorri com coisas bobas, chorei no colo de alguém que não dava a mínima pra mim. Corri sem destino, me arrependi, tomei banho de chuva. Chorei junto com as gotas do chuveiro que desciam pelo meu rosto. Já andei descalça no sol quente e chorei horrores ao ver o que o ser humano é capaz de fazer com um animal inofensivo. Já senti que estava num sonho de tanta dor que sentia, até me belisquei na tentativa de acordar. Já disse que estaria disponível pra alguém o dia inteiro, quando na verdade eu tinha milhões de coisas pra fazer. Já cheguei exausta em casa e ainda assim, retornei ligações de quem nunca havia me procurado. Ouvi um idiota chorar ao telefone e o consolei, quando minha vontade era mandá-lo se ferrar. Já fui julgada e recriminada. Já me acertaram com milhões de palavras ofensivas, palavras que até hoje eu carrego em minha mente. Já disse que odiava meus pais, mas já me torturei por não conseguir dizer que os amo. Pedi desculpas sem estar errada. Odiei uma pessoa que nunca me fez mal. Já desejei a morte de alguém, mesmo que digam que é errado. Já freqüentei lugares estranhos. Viajei contra minha vontade. Cantei sem querer cantar. Dancei sem saber dançar. Tomei sorvete escondida, porque estava super doente. Já me tranquei no quarto e chorei sem motivos. Já quis desistir dos estudos. Chorei com uma música que me parecia triste, mas que a tradução era alegre. Senti saudades de alguns momentos e cai em lágrimas ao ver fotos. Quis voltar no passado. Já menti minha idade. Já fingi não gostar de alguns elogios, quando eu estava na verdade, me achando. Já disse coisas sem nexos, já perdi alguém, já perdoei, já trai e fui traída. Já fiquei sem comer porque me achei gorda. Já fiz dietas malucas. Também já desejei morrer. Achei que minha vida terminaria em segundos. Já agüentei dores terríveis e quase insuportáveis. Já teimei pra caber num vestido perfeito. Já paguei micos. Já disse que adorava um professor, só pra ganhar pontos. Já senti prazer na dor alheia. Já pequei, pequei muito. Mas até hoje, não me arrependo de absolutamente nada. Tenho a convicção de que tudo que eu vivi, valeu à pena. Porque eu comecei a amadurecer rindo de coisas que um dia me fizeram chorar. Eu já bati em alguém, mas também já apanhei. Não só fisicamente, mas emocionalmente a dor é bem mais forte. Palavras ditas sem antes serem pensadas, podem carregar marcas durante toda uma vida. Mas eu resisti a todas as desgraças, quedas e dores. Eu permaneci viva fazendo aquilo que meu coração pediu pra eu fazer. Mas também agi com a razão. Tal razão que me fez querer desistir de umas das histórias mais longas e bonitas que eu tive. Razão que já me fez chorar. E orgulho que tomou conta de mim. Eu já bebi pra esquecer, já quis pegar um carro e sair dirigindo sem destino. Já assisti a um filme mais de dez vezes. Já gritei de raiva. Achei que amei, quando na verdade, era só atração. Já tive melhores amigos e super inimigos. Eu achei que era fraca e me tornei forte. Eu já fiz tanta coisa em poucos anos de vida. Mas sabe quando chega uma hora da sua vida em que mais nada faz sentido? Uma hora em que você olha pra trás e nada é sólido o bastante? Eu me sinto assim… Simplesmente perdida.