Sou culpado.
A estrutura (elementos) da Culpa, que está descrita no texto “Mato baleias e corto árvores”, pode ser aplicada nas relações comuns, no dia-a-dia, não precisando ser vista exclusivamente no plano jurídico.
A frase “não me arrependo do que fiz, mas, sim, do que não fiz” tem sua origem na crença de que não fazer implica em reprovável omissão, displicência ou negligência, quando a educação valoriza a ação, o fazer. Sendo o não fazer a abstenção do movimento corpóreo direcionado a um fim, não se terá nessa espécie de conduta, à obviedade, o resultado que não se quis. Mesmo sendo o fazer e o não fazer integrantes da conduta, o não fazer tem lugar preponderantemente proibitivo, de regra seguido de uma punição: “não mate”; “não furte”; ou, até mesmo, “não seja omisso” (o que traz a pecha de que o não fazer é prejudicial).
Neste passo, o não fazer pode deixar, de fato, um “débito” insanável a quem o adota, ou a quem o aconselha, por exemplo: -“mesmo que você tenha de chegar na hora para receber algo de muito valor e de seu interesse, não corra para evitar um acidente e morrer”! Correndo, o acidente pode ou não ocorrer, e quem corre tem possibilidade de obter o que quer. Não correndo, quem não corre não vai obter o que quer, mas tem a sua vida preservada. E, assim, o “débito” surge: -“sim, estou com vida, mas poderia estar vivo com aquilo que queria” – e jamais se poderá dizer que correr não seria o ideal da conduta, desde que o resultado (morrer correndo) poderia não ocorrer.
Sob outro aspecto, “sou culpado de algo que vai acontecer daqui a alguns anos”, é o mesmo que dizer “sou culpado de algo que aconteceu há alguns anos”. Isto porque tanto é inadequado, em certos casos, eu me responsabilizar por algo que fiz no passado em dadas circunstâncias de tempo, modo, forma, lugar etc., e faria de novo se essas circunstâncias fossem exatamente as mesmas, quanto eu me responsabilizar por algo no futuro em que as circunstâncias de tempo, modo, forma, lugar etc. não serão as mesmas de hoje. Ou seja, não é incomum haver a culpa com base nas referências (experiências) atuais sobre circunstâncias que, à época, no passado, não havia a menor possibilidade de prever-se o resultado, ou a intensidade de sua consequência.
No entanto, é preciso ver que se as circunstâncias se apresentam as mesmas do passado, e do presente, repetir o erro é, no mínimo, burrice...
Ass. Rodolfo Thompson.
P.s. A Previsibilidade é fator preponderante na responsabilidade [v. “Sou mental (espiritual)”], e, muitas vezes, há incongruência na percepção do termo: previsibilidade sobre fato pretérito... o que soa, inclusive, como ironia...!