O funeral de Neide
Neide está morrendo. Este personagem de traços fortes, mas de poucas aparições está deixando os bares, as casas noturnas, as tequilas de balcão.
Não precisa chorar. Ela ainda está aí, mas andando em outra pele. Não importa se de cabelos lisos ou cacheados, se de unhas pretas bem feitas ou ruídas, se bêbeda ou sóbria, Neide está se tornando a mesma que Nádia.
Esta mulher impetuosa que faz o que quer não aceitava andar em pele de cordeiro, absorvendo o mundo sem revolta. Execrava suas “crises” de Nádia.
Porque Neide morre então? E como? Assim como Rê Bordosa, o que morreu foi uma parte de seu criador. Não necessariamente morte, mas crescimento. Neide aprendeu a aceitar mais o Yin do Yang. E paz de espírito não lhe parece mais sinônimo de uma tarde tediosa de domingo. Aceitou o fato de que muitas coisas que ela faz são apenas para fugir de outras.
Mas Neide se exige um funeral grandioso, onde ela, em um caixão transparente, segurará rosas roxas em suas mãos de unhas pretas. Todos estarão dançando ao seu redor, músicas frenéticas embaladas à tequila. Antes de crema-la sua última imagem deve ser um riso enigmático de canto de boca, como quem diz: - Nunca saberão tudo sobre mim... Ou então: Eu sempre vou estar presente.
E vai. Suas cinzas ficarão espalhadas onde quer que falte audácia. Seu último desejo é que o pó correspondente ao fígado e à garganta fique com Nádia, pois segundo ela “essa menina precisa sentir e cantar mais”.
Ao meu amigo Rômulo, que foi quem primeiro soube da possível morte de Neide. E acreditou na transcendência da mesma em algo melhor.
“As pessoas não morrem, apenas deixam de ser vistas” Ditado budista.