::: O labirinto de Pedra :::
O espelho e os sonhos são coisas semelhantes, é como a imagem do homem diante de si próprio.
-José Saramago-
Ninguém nunca acreditou em mim, ainda acham que sou louco. Não sei o que aconteceu, nem se foi real ou não. O fato é que meus amigos não estão mais aqui e estou preso num hospital psiquiátrico, escrevendo em folhas roubadas, alguns poucos fragmentos do que realmente me lembro. Meu corpo todo treme na lembrança daquelas noites, porque no labirinto, sempre era noite. Não havia nada bom, só uma constante e cruel afirmação do que você é. E sons que vinham de todos os lugares, dissonantes gritos e ruídos assombrosos. Aromas que infectavam a atmosfera cinzenta de fumaça, num pútrido odor funesto, um insuportável cheiro de morte. E tinha também um trem, não sabíamos de onde vinha e nem para onde ia. Muito menos quem ocupava seus vagões, mas ele sempre chegava e soava seu apito ensurdecedor, parecendo que iria arrancar nossos miolos. Aquele som penetrava pelos ouvidos e tilintava no interior do cérebro, nos desnorteava e nos cinco ou seis minutos próximos, ainda estávamos confusos. O coração gelava, acelerava. E parecia, ás vezes, parar de bater. Era impossível medir o tempo naquele lugar e por mais que eu tente me lembrar, não sei em qual minuto da minha vida fui parar lá. E nem quando saí. Acontece que agora estou aqui, sem ninguém. Algumas vezes minha família vem me visitar para que meu irmão possa rir de mim, o pobre coitado afogado em sua loucura.
Pode parecer mentira, mas NÃO ESTOU LOUCO.