Apendicite
Fingir que tenho mil problemas e sorrir pra mim mesmo no espelho. Semear a discórdia e saltar por nuvens fofas feito um anjo. O que seria de mim se eu não fosse essa ausência de essência, essa ausência de ser? Ah, mas como é doce o gosto da ciência da falta de caráter! Gritar para dentro de si em busca do bom senso e só ouvir o eco, ouvir a vibração do meu chocalho de cobra ricocheteando no vazio de onde deveria haver decência. Ah, o se olhar no espelho e ver um totem! Esculpido meticulosamente. Dando a impressão de um recheio de puridade. E ser vazio! E ser vazio! E ter dentro de si uma alma-apêndice. E ser si próprio o apêndice de si próprio: pendurado numa ensimesmação sem fim. E seguir fingindo carregar mil coisas nas costas... Que vida!
06/06/2012 - 01h25m
Beirut - Port of Call