UM POEMA TAMBÉM É...
Um poema é a fumaça fétida expelida pelas chaminés
É o lodo marrom dos canais imundos
É o esgoto que represa sob as palafitas
É o andrajo dos homens que perambulam pelas ruas
É a desventuras das mulheres que sequer conseguem amamentar
É a estatueta disforme feita pelo hippie
É a fome das crianças carentes
É o descaso das políticas habitacionais nas favelas
É a desnutrição dos adultos do sertão
É a estupidez do civilizado homem urbano
É a labareda incandescente que destrói o cerrado
É a motosserra zoadenta que devora a floresta
É a fuligem que entope o pulmão do sertanejo.
Um poema é o motorista irritado nas marginais do Tietê
É o condutor amedrontado na Linha Vermelha
É o cidadão que sobe o morro escondido da bala perdida
É o camelô que foge arrastando bugigangas
É o rapa que apreende mercadorias na calçada
É o policial sem colete que troca tiros com bandidos
É o bandido que massacra crianças indefesas.
É o deputado sentado na cadeira macia proclamando que a lamúria do povo é a maldição da sociedade.