O poder do amor em pensamentos

Não é de hoje que tenho duas manias: a primeira, que sempre me acompanhou, é a de ver (ou tentar ver) todos os filmes que me indicam. A outra é a de tentar ver todos os filmes de um artista, quando o mesmo me encanta. E foi assim que vi - e me desagradei - com Scott Pilgrim e Nichts Bereuen.

O primeiro, que a maioria já deve conhecer, conta a história de um rapaz que, tomado por um amor súbito pela esquisita - porém - bonitinha Ramona Flowers, joga sua vida praticamente para o alto para conquistá-la, nem que para isso tenha uns ex namorados para derrotar.

No segundo filme, produção alemã de 2001, Daniel Bruhl interpreta Daniel, um rapaz recém formado no colégio que é apaixonado há anos por Luca. A paixão é tanta que ele perde sua adolescência se "guardando" para a sua amada, evitando olhar para qualquer outra garota que surja em seu caminho - e olha que surgem pelo menos duas.

O que nossos heróis tem em comum? Além do corte do cabelo esquisito (brincadeirinha), nenhum dos dois conhece de fato o objeto de seu amor. Não acompanhei a estória original do Scott Pilgrim, mas no filme fica claro o quanto ele é um imbecil por largar a namorada que luta até o fim para ficar com ele, da mesma maneira que fica claro o quanto Daniel não conhece Luca, e fantasia 4 anos de sua vida em cima de um único momento passado quando ambos tinham 15 anos. Cada um deles a sua maneira luta por um amor que de concreto não possui quase nada, um amor que está mais para capricho que para sentimento. Os dois largam mulheres carinhosas e companheiras, por algo que não existiu nunca em lugar nenhum. A única diferença é o final. O final de Nichts Bereuen me fez sorrir - o que não diminui em nada minha irritação.

Talvez o que irrite seja o fato de que, querendo ou não, todos nós já fizemos isso, pelo menos uma vez na vida e, curiosamente, essa primeira vez geralmente é o nosso primeiro "amor". Não é a toa que alguns se frustram tanto. É difícil competir com nós mesmos. Nada mais forte que o nosso pensamento e o nosso desejo - mesmo quando este é criado por falsas expectativas. E daí vamos vivendo, negligenciando o que poderia ser algo bom e trocando por algo que não existe em nenhum outro lugar.

Afinal, para que serve o amor em pensamento?, pergunta esta que já até motivou outro filme lindo com o Bruhl e mostra o amor romanceado e inventado levado até as últimas consequências. Mas isso já é outro pensamento. Um pensamento de cada vez, e até a próxima.