Totterin
É tão certo tudo ruir que acho que o erro, na verdade, é começar. Uma faculdade, academia, um negócio qualquer... Um namoro. No final, nem nós sobramos inteiros. Inclusive. Sinto sua falta na mesma medida que repudio sua memória. Estou confuso. Por que fecho os olhos e sinto sua presença e, na sua presença, de olhos abertos, sinto minha própria ausência? Escrevo isso na metade de uma folha de sulfite que encontrei: encostei-a na porta metalizada do elevador e subo do térreo ao décimo escrevendo. Pode ser impressão, mas isso é algo análogo ao que passamos a ter: picos de carência versus picos de impaciência. De zero a dez eu subo: te quero. De dez a zero eu desço: te afasto. O conforto é meu quinto andar: a dúvida. Lá, oblitero tanto o que de bom eu tenho, quanto o que de ruim em mim transborda. Acredita-me? Um homem grisalho de camiseta vermelha me observa do prédio ao lado. Hoje, como o céu está nublado, não haverá conjecturas sobre para onde este ou aquele avião está indo - não posso vê-los, apesar de ouvi-los e sentir a leve alteração do vento. Debruçado sobre essa folha, escrevo: "Meus sentimentos são aviões fadados a pousos de emergências em paragens inóspitas no meio do Nada. Meu aeroporto preferido é a Solidão, com escala no Niilismo". O homem de camiseta vermelha, em sua varanda, com um cigarro numa das mãos - a outra apoiada na cintura - continua me olhando. O que será que ele está pensando sobre mim? Caminho por todo o terraço, olhando cada canto, sentindo em cada passo uma pontada de angústia no peito. Aproveitar a única meia hora livre do dia para pensar e não chegar à conclusão alguma. Nada além de embolar ainda mais os fios que me amarram nos/aos meus infernos. Até que eles virem minha própria forca...
31/05/2012 - 14h10m
Samiam - Mexico