Insônia
Água fervendo, garrafa aberta, coador e pó de café.
Janela aberta, peito escancarado, cabeça fervendo e uma insônia pra chamar de minha. E um pensamento meu pra chamar de seu. É foda.
Fazem 24 horas que eu não fumo. Prometi pra mim mesma que ia parar desde ontem, que acordei respirando mal e com uma tosse horrível. O maço está em cima do armário e o esqueiro está bem ao seu lado. Sento na pia. Café, café, café. Trago, trago, trago. Dor, dor, dor.
Mas não necessariamente nessa mesma ordem.
Sozinha num apartamento minúsculo, tento dimensionar através da visão do céu pela janela, o quão infinita e imaginavelmente insignificante nós somos. É, nós. Eu e você. Não o mundo. Foda-se ele.
Nós não sabemos se ainda queremos que exista "nós".
Nós não sabemos se queremos magoar ou ser magoado.
Não sabemos nem se queremos continuar vivendo.
E porque diabos saberíamos o que queremos da vida?
Sabe, meu cigarro se compara aos homens que tem ocupado boa parte dos meus pensamentos ultimamente - você e mais alguns outros.
É ruim sem eles. Mas pior com eles. Ou algo assim.
Meu café me conforta, embora acentue minha gastrite.
E o cigarro me acalma e me relaxa, embora tire meu ar.
É um misto de tudo o que você é e que eu estou tentando me livrar.
Embora eu não ache que eu sobreviverei até a úlcera chegar.
Embora eu não ache que eu aguentarei até o câncer aparecer.
E muito menos que me verei em outra realidade que não seja a solidão.
Sabe, acho que preciso é de uma traqueotomia que tire esse nó na garganta e me faça dizer o que nem mais consigo escrever.