Apenas somos
Classifico esse... como posso chamar? Texto? Seria muito simplista. Mas de qualquer modo, o que agora escrevo chamo de pensamentos, porque, sim, são pensamentos. E, mais além, são sentimentos traduzidos em palavras. Simples e complexas as palavras. E os sentimentos também.
Os sentimentos. Surgem aleatoriamente (ou não), derivando de ações, acontecimentos, lembranças, agressões, afetos e palavras. Palavras novamente. Palavras causam sentimentos? Mas é claro. Diga-me, não se sente mal ao ser xingado? As palavras podem trazer dor. Te colocar para baixo. Levar o ser humano ao mais profundo e obscuro vazio interior apenas por ter a infelicidade (ou felicidade) de ter ouvidos para escutar tal afronta. Bem-aventurados são os surdos, pois não sofrem da ignorância das palavras humanas. Devemos culpar as palavras? De modo algum. Pois as mesmas, que trazem a tristeza a um coração, são aquelas que podem também reviver o espírito e alegrar a alma. Ah, como podem. Fazem com que todo o mal que uma vez sobreveio sobre você abruptamente se perca, dando lugar a uma súbita (mas verdadeira) alegria. Trazem um sorriso estampado. Um sorriso esse que contagia, que ajuda o próximo. Portanto, declaro agora, a inocência das palavras.
A quem devemos culpar então? É necessário que haja um réu, pois todo crime tem um culpado. Procuremos. A resposta é simples, mas inóspita. Ah, como é. Porque, caro leitor, a culpa do hediondo crime de fazer outros sofrerem não deve ser atribuída a ninguém mais que ao ser humano. Pois esta raça, que se diz superior, é aquela que é mais inferior que o menor inseto. Esta nação que se vangloria de ser civilizada, mas promove guerras e genocídios. Pois digo a todos que queiram ouvir: NÓS SOMOS OS CULPADOS! Pois matamos nossos irmãos por egoísmo, lutamos guerras em nome da paz e financiamos genocídios terríveis. Todos assim fazemos. Pois aquele que sofre um dia, é aquele que faz o próximo sofrer no outro dia. Há solução para a nossa espécie? Se perguntas a mim, creio que não posso responder. Nada sou além de mais um humano, criador do caos e do terror. Egoísta e falho. Mas o ser humano não é de lá todo mal. É como uma moeda. Possui dois lados, duas personalidades. Ao mesmo tempo que pode ser mal, falho e cruel, é bom, amável e benigno. Ajuda aquele que necessita. Busca alcançar a paz em momentos onde a esperança é pequena. Une-se diante de uma injustiça. Luta contra valores errados. Protesta contra o mal. É contra o mal.
Mas quem tem duas caras? Cada um ou a espécie toda? Os dois. Existem pessoas que tem seus momentos de benignidade e malignidade. Há também aqueles que são malignos de coração, sentem o prazer no sofrimento do outro e querem glória e poder próprios. Mas há ainda, um último tipo: os puros. Aqueles que são recheados do bem. São anjos, sim, anjos enviados à Terra para tentar ensinar-nos como viver. Buscam o bem, e apenas o bem. São aqueles que, quando tudo parece estar perdido, trazem a esperança de volta. Sim, eles existem. E não são poucos. São eu, você. Somos nós. Somos bons, somos maus. Somos tudo. E somos nada. Somos inocentes. E somos culpados. Mas, por fim, apenas somos.