Reflexões Sobre a Vida I
Todos nasceram marcados para morrer. Isto é fato, e não há como mudar. Entretanto vivemos em um mundo invólucro de uma premissa que se apresenta como verdadeira e puramente absoluta. Que nos impele e instiga - nos a ensejar a tão sonhada “vida eterna”, ou até mesmo um considerável prolongamento da existência. Em outros termos, deduzimos que, vivemos como nunca fossemos morrer. E esta real fatalidade nos acomete de várias formas: o apego aos bens materiais, os laços familiares e afetivos. Fruto do cultivo no decorrer de toda a nossa existência, e que ficam marcados em nossa memória.
Empreendemos uma busca alucinante e desesperada, com o intuito de alcançarmos a “vida eterna”. São despendidos vultosos esforços, para abraçarmos o domínio total do conhecimento a cerca dos meandros e entranhas a que a vida está arraigada, dos seus mais gêneses segredos.
Prolongar a nossa vida ao máximo, e em plenas condições lúcidas e físicas, com o objetivo de desfrutarmos com maior satisfação a nossa existência. E é neste ponto que deparamo-nos com uma complexa dualidade. Imbuída de utopias e teorias dos mais diversos gêneros, e que durante toda a caminhada da civilização, até chegarmos a Contemporaneidade se fazem presentes no seio de nossas mentes prodigiosas, férteis, normais e fantasiosas. E esta dualidade, paradoxo que se estabelece neste ponto, extremamente determinístico e profundamente difícil de analisarmos e compreendermos. Materializa-se da abstração de: “viver feliz”.
Mas como! Vivermos felizes? Se nem ao menos temos domínio, conhecimento e certeza, de estarmos vivos, amanhã, para contemplarmos o alvorecer da aurora. O que é mais trágico, se no segundo seguinte a que escrevo estas palavras amontoadas, posso ter a certeza de lê-las novamente. Portanto é de suma importância frisar que, ao há uma certeza fria e absoluta que nos reja. A vida se apresenta como uma gama de escolhas e possibilidades, que derivam de escolhas feitas no passado e que refletirão e se materializarão no futuro, como a construção da realidade de cada um. A vida poder ser compreendida também como uma derivação das nossas escolhas, com embasadas no passado, ou em experiências passadas, mas tomadas no presente, no agora, e que constituirão o futuro. Viver implica necessariamente em uma aposta diária e porque não instantânea, de “cara ou coroa”. Viver é nutrir a esperança, no amanhã, no futuro vindouro, não relegando o presente, e refletindo sobre o advindo. É ter os “pés” no contemporâneo com os olhos no futuro, e aprendendo com o passado. O viver constitui-se em compreendermos, e refletirmos dentro da nossa própria limitação e realidade vivenciada. E se apossando da razoabilidade, podermos esboçar mentalmente um delineamento sobre a nossa existência em todas as suas etapas. Viver é poder indubitavelmente admirar e contemplar as belezas que nos circundam, atentando aos detalhes mais sublimes e sutis do cotidiano, onde reside o verdadeiro prazer e a razão de se estar vivo, respeitando o próximo e o ambiente como um todo.
A vida e a felicidade, para o ser humano andam lado a lado, uma atrelada à outra, e ambas são formadoras da gênese do ser humano. A felicidade sim é um estado de avivamento do espírito, caracterizado também como um sentimento de realização plena e satisfação interior. Mas também é um fator compositor das nossas vidas, o motor impulsor da ânsia interior que nos move rumo ao futuro. E que mesmo sem termos a real certeza de estarmos vivos daqui a instantes, nos possibilita planejarmos o futuro e querermos transformá-lo em realidade. Almejarmos alcançar a felicidade é algo de difícil compreensão e de abstração complexa. Entretanto viver, dentre outros, é percorrer este caminho que objetiva alcançar a felicidade. É a estrada da nossa existência, composta de alegrias, frustrações, enfim da gama de sentimentos, emoções e recordações que acumulamos.