Reposta ao Dr. Osvaldo
Resposta ao Dr. Osvaldo Barroso Filho, médico cardiologista, pós graduado em filosofia política pela Universidade Católica de Goiás e professor de História das Civilizações e Filosofia Política no Instituto Diocesano de Filosofia de Uruaçu.
Pergunta: O milagre existe? Pode alterar a ordem física?
Deus, sim, é além de Criador, o Ordenador de todo o universo e de seus desdobramentos físicos e espaciais. Quanto ao homem, este é também criatura de Deus. No seu composto interativo de corpo(soma) e espírito (alma), o corpo obedece à dinâmica do ordenamento das leis naturais concernentes à matéria no seu aspecto temporal e espacial. Ocupa um espaço e se locomove dentro do existencial do tempo, sem contudo,contradizer às imutáveis leis da física, por exemplo: estar em dois lugares ao mesmo tempo, etc. Na sua dimensão espiritual, foi criado com uma vontade e uma liberdade, com profunda capacidade para decidir entre o bem e o mal. Também o espírito é marcado pela Lei Eterna (ou Lex Naturae) que já traz impresso em si como marco sinalizador para sua conduta em vista da eudemonia (felicidade). Obedecendo ao princípio da não contradição divina, podemos afirmar que Deus não contradiz o que ele criou, pois assim não seria Deus. O milagre ocorre sem contradizer os princípios da criação divina, sabendo-se que muito do que se diz ser milagre ocorre dentro da normalidade do percurso do movimento atômico da matéria. O homem, por ser um animal simbólico, em razão da sua fiducidade (fé), termina por fazer leituras religiosas e espirituais dos acontecidos, por exemplo: Deus me salvou de um acidente, enquanto que na verdade a pessoa não morreu em virtude do seu ágil movimento ao volante que evitou a batida frontal e fatal. Não foi Deus que tomou o volante, mas podemos entender que os reflexos, a luz racional e etc, se situa dentro do plano criativo de Deus que nos dotou com a capacidade de decidir e naquele momento o motorista teve o reflexo e a racionalidade para evitar a experiência tanotológica. No plano físico e corporal, podemos entender que os milagres que ocorrem não ferem a lei natural da física. Uma pessoa com um tumor maligno alojado no cérebro, tido pela atual capacidade da ciência como irreversível e impossível de ser extirpado, vai a uma reunião de oração ou similar e, para surpresa dos médicos – uma raridade estupefata, mas não impossível de ocorrer - o tumor desapareceu após aqueles exercícios espirituais. Não houve uma alteração na ordem física, pois o mesmo caminho percorrido pela matéria para formatar o tumor pode ter ocorrido ao inverso para desformatá-lo. Como ocorreu a cura? Pela fé! O ato de crer pode acelerar um processo de sinergia para além da nossa compreensão e facilitar o processo inverso. Não estaria nisso a confirmação prática das teses da paranormalidade? A capacidade paranormal da pessoa não contradiz a dinâmica da criação. Já fomos criados com os mecanismos de cura. Contudo, nunca se ouviu falar que uma pessoa que teve uma das pernas amputada num acidente, tivesse a perna de novo, como ocorre com a cauda de certos lagartos que ao ser cortada inicia-se um processo de recomposição e em pouco tempo a cauda volta ao normal, pois já está na sua natureza como lei natural da sua espécie. A perna, jamais. Quem perde um olho, jamais terá outro olho, nesse sentido o milagre não existe, pois seria uma contradição com a ordem natural da espécie e um absurdo. Pedir um milagre nesse nível seria uma aventura inócua. Enfim, os milagres que acontecem não podem ser contraditórios com a Jus Naturae. Estes quando acontecem, acontecem no plano também natural e nunca estaria obedecendo um ato vinculante de Deus em favor da pessoa humana. Deus não muda, Ele é. O Ser divino não se contradiz a sim mesmo. O amor e a providencia d’Ele já estão estabelecidos, à pessoa humana cabe, no exercício do atributo da vontade e da liberdade, receber os obséquios da Eterna Bondade, disponíveis já na obra presente da Criação e no seu Misterium Facinans. A luz da razão e a busca da sabedoria são armas que o Criador dispôs em favor dos humanos para que estes aventurem nas ondas da bondade e dos milagres. Para tanto, a humildade interior não deixa de ser o selo da mesma sabedoria para obter tal herança.
Enfim, o milagre altera a nossa parca compreensão das coisas, mas nunca a ordem natural das mesmas.