Verdades ao Avesso
I
Preciso de cantos para ter onde me esconder. Meu mundo é quadrado. Com você, ficou redondo. Quando sentia necessidade de me afastar, com a falta de quinas e de cantos, corria atrás do meu próprio rabo. Acabei me perdendo.
II
O amor é transitório, é um sentimento nômade. O amor precisa de novas paragens para respirar e ganhar energia. O amor precisa de um corpo pra tomar forma. De um invólucro. Meu corpo, sensível, foi dado como inóspito. Pura alergia.
III
O mundo é uma bola de argila. Sem forma. O mundo é moldado de acordo com os passos dados. O mundo é moldado através de toques. Com os pés atados às mãos, nas costas, fazendo um X, sigo no meu mundo, sendo uma incógnita a mim mesmo.
IV
A tristeza mais ferrenha - aquela tristeza indizível, que dá até formigamento nos lábios - é a do seu sangue se revoltando contra seu sangue. Saber-se inútil no mundo; saber-se um incidente; saber-se o resultado de uma soma de erros; procurar se situar e só achar mil placas que hão de enveredar em forcas e trilhos de trem te acenando, hospitaleiras e aprazíveis - suas verdadeiras mães.
V
A declaração de amor mais sincera que você pode extrair de um poeta é seu silêncio. O silêncio não vibra. O silêncio não mente. O silêncio é um axioma. Seis mil anos de palavras escritas, juntas, não são capazes de sintetizar o que é amar. O máximo que elas são capazes de conseguir é despertar reminiscências de projeções, o que, em última análise, é o se olhar no espelho nosso de cada dia.
VI
As melhores respostas emergem enquanto as piores perguntas feitas submergem quando estamos na horizontal. Tipo uma lividez cadavérica.
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18/05/2012 - 00h40m