Silêncio

Essa era eu, gritando para que alguém visse através da minha risada, através da dança, através de mim. Mas ninguém nunca viu. Eles apenas tiveram vislumbres. Pequenas gotas de sensibilidade. E eu continuava gritando. Um grito mudo. Para que ninguém ouvisse. Não posso me dar ao luxo de ser vista, não agora. Preciso de toda a pequena quantidade de força que puder encontrar.

Enquanto vou sorrindo passo a odiar tudo o que um dia amei. Passo a me perguntar por que eles não percebem, por que continuam a viver como se esse mundo tivesse alguma coisa de bom. Tudo que é bom é passageiro.

Por que eles continuam se enganando? Por que continuam lutando por sobrevivência? Eu deveria me envergonhar eu sei, tenho tudo nas mãos, inclusive tempo. Mas sei que ele está se acabando. De alguma forma ou de outra, chegou a hora de encarar a vida. Não posso ser como eles, fingir que está tudo bem. Uma pequena parte de mim se nega a isso, terminantemente.

Mas essa parte, essa pequena parte, tem que ser calada. Porque é a parte mais covarde do meu ser. Por que é a parte que diz que eu devo desistir. Eu sei, já desisti de mim faz muito tempo. Mas ainda preciso ter coragem. Por que acima de tudo, é isso que devo a vida.

Devo a ela porque ela foi muito mais generosa do que eu podia esperar. Devo aqueles que um dia me amaram. É uma pena que esse amor não seja suficiente para que eu pudesse amar a vida. Tenho com ela uma divida. Mas apenas isso. Assim que ela for paga cada uma vai para o seu lado, como um velho casal que se separa.

E quando nos separarmos talvez não haja nada, mas eu sei que, de uma forma ou de outra, minha divida vai estar paga e eu vou poder finalmente descansar, ser livre.

Calin Lolo
Enviado por Calin Lolo em 17/05/2012
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