Um pensamento pode ser grande...
Gosto da sua casa (antes, "tua").
Gosto dos poucos móveis, do "colllchão" no chão da sala, das roupas espalhadas. Do "tempo sem tempo"... Do feriado de chuva... Da discussão no sofá. Dos cigarros na varanda, sim, até gosto deles...
Mas gosto ainda mais do "tempo sem tempo", de "almoçar" no jantar. Da laje fria. Da parede branca. Do sofá verde. Aquele que eu via nas fotos, pensando "como será...?". E do vermelho. Ah! o sofá vermelho... que não era o mesmo, e que aí já não mais está... E o teto, e os insetos ao redor da lâmpada...
Gosto do supermercado daí. E das sapatilhas e roupas bizarras. De procurar os queijos na prateleira. Gosto do panetone de chocolate que aí vendem. Uma pena, nunca encontrei por aqui... Ah, e do pudim que tu faz.
Pode deixar, não vou reparar na bagunça... Ajudei a fazer. Depois podemos limpar, organizar, quando tiver vontade, ou quando a despedida obrigar...
Gosto do caminho verde em que passamos... Do caminho do ônibus, o caminho de sempre, e os lugares que sempre passamos, indo para a rodoviária. Só não gosto do motivo de ir... A não ser viajar junto contigo.
Gosto do teu jeito de apagar a luz e dizer um "oops", depois de colocar a música aconchegante pra tocar... Gosto desse tom proposital, mas no fundo não intencional, "sem querer"... Da tua aproximação, da respiração.
A tua casa... e a laje fria. A pia cheia de coisas pra lavar... e o gato que vem visitar... A calmaria e a solidão... E a discussão polêmica no banho. Os banhos... O meu condicionador com o teu champu. A divisão do travesseiro. E gargalhar sem motivo contigo... a melhor terapia que eu poderia ter.
Gosto das roupas sendo postas no varal, com certa dificuldade... as roupas espalhadas, as roupas pela janela... e do sofá verde... o sofá verde, das fotos. Gosto dessas fotos... E das nossas fotos. E da lista de planos.
Uma tarde em casa, algumas vezes, pode ser desastrosa quando precisamos trabalhar. Mas, se ao menos, eu pudesse estar aí...
Enquanto observo as nuvens brancas flutuam no céu azul, enquanto o sol reflete o amarelo sujo e o quase branco das janelas do prédio à frente, fiquei aqui pensando em como eu (também) gosto de ir te visitar.
Não sei bem o que é, pode ser apenas nostalgia... mas estou quase a ponto de dizer: "deixa eu ir para aí!". Ou então: "vamos morar em dois lugares!". Ou então... Ah, sei lá...
O que vai ser da laje fria, dos cigarros na varanda, do colchão no chão, dos insetos na lâmpada?... E o gato? O que vai ser do gato? Acho que ele se daria bem com a minha gata... E os poucos móveis...? E as lembranças? E esse tempo...? Traz os móveis pra cá, e a laje, e o colchão, e a casa inteira, e a rua, e o gato... E traz o avião, e a vista. Mas o aeroporto pode ficar, não traz ele... E leva o daqui pra bem longe, também...
Pois gosto daí... e da tua casa, e dos poucos móveis, do sofá verde.
Se, ao menos, a gente pudesse voltar para visitar... Mas visitar quem? Nós, de hoje...?
Mas a casa, o gato, a rua, o avião, a vista, o final de semana com chuva... Não seriam nada... Se eu não gostasse antes de você. "Você"... Gosto do teu "você", que pra mim sempre foi "tu". E que fez eu me identificar com algumas coisas que só aí vou poder encontrar...