SINTOMAS DA DOR
Embora eu esteja tentando me manter forte, no fim do dia, quando a porta se fecha e deixo atrás de mim o mundo, sinto emergir das minhas entranhas uma tristeza que chega sorrateira e se apodera aos poucos da minha tranquilidade. Minha garganta se fecha sob o jugo da decepção que me corrói: mais um dia se passou e a sua indiferença é, ao mesmo tempo, o meu veneno e a minha salvação...
Um suspiro profundo e tremido, um som de voz embargada e as lágrimas já presentes pontuam o momento em que me rendo à dor. Sinto que tudo o que mais desejo é que você mais uma vez me procure e me proporcione um dos momentos mágicos que me embriagaram, apenas para, logo depois, ter certeza que esse desejo é absurdo e errado e começo a rezar aos céus pedindo que nunca mais eu coloque meus olhos obre você, nunca mais escute o som da sua voz, nunca mais me torture com suas promessas...
Antes de me entregar a essa tristeza quase consoladora, confortável, amiga e aconchegante, essa tristeza de amor que parece me envolver numa bruma quente e desoladora, sinto um forte impulso de me curar o mais rápido possível dessa doença maldita que me subjugou em tão pouco tempo e para isso me encolho em minha cama e me entrego ao sono do esquecimento...mas antes que caia no torpor dos sonhos, num atmo de racionalidade, recupero minhas forças, respiro fundo novamente, dessa vez com mais sobriedade e penso que eu conseguirei superar. Ninguém é essencial. Não posso mais uma vez me perder de mim mesma. Preciso fazer o caminho de volta...e continuo rezando para que sua indiferença seja mais forte do que seu desejo...