Estou chorando
Naquela semana uma chuva fina de final de outono pareceu inundar o vale das minhas lembranças, o frio aumentava mais ainda a sensação de solidão no meu deserto íntimo.
Aprendi com a vida que lágrimas não são eternas e que o tempo é remédio eficaz na colaboração do esquecimento. Tantas vezes levada a sono entorpecido, me percebi à deriva nas ondas dos meus sonhos confusos, que iam e voltavam, no rítmo preciso do tempo, tempo, tempo... Não obstante, nas folhas do meu destino, não encontrei a página que mostrava os caminhos perigosos percorridos pelo coração, e cega me precipitei ao abismo secreto do AMOR que no começo me ofuscou em luz excitante, me embriagou de sonhos alucinantes e finalmente me aprisionou neste deserto cinza, onde cativa, aguardo os efeitos benéficos do remédio prometido pelo tempo.
Hoje, mais uma vez a lua não apareceu e as estrelas continuam escondidas. A chuva fina de outono traz notícias de um inverno que está para chegar. No reflexo do espelho as janelas da minha alma revelam : Estou chorando.