O bem-te-vi e o pássaro

Neste dia acordei me sentindo ainda mais leve e calmo. Mesmo estando curtindo meus primeiros dias de desempregado depois de quatro anos. Na verdade me sentia de férias. Era um dia bonito. Tomei meu café. E fui até a janela do quarto do meu irmão. Estava só em casa. Olhei a imensidão de casas e prédios construídos e comparei com a vista que ainda permanecia em minha memória. Havia árvores e muito verde. Diferente de hoje. As construções tomaram conta de tudo.

Acendi cigarro (que isto não sirva de exemplo pra ninguém) e contemplei ainda mais tudo ao meu redor. De repente, velozmente passam dois pássaros. Até então tudo normal. Apurei mais as vistas e percebi que não era uma situação comum (a meus olhos). Vi que se tratavam dois pássaros de portes diferentes. Um era o bem-te-vi. O outro era um pássaro de peito amarelo, grande e forte, e para minha surpresa era ele que estava sendo perseguido. Mas como pode? Um pássaro daquele tamanho sendo escorraçado pelo pequeno bem-te-vi?

Nasci 1976, a ditadura explicita estava com seus anos contados. Este período singular de nossa historia mostra que os mais fracos agiam de forma organizada e engoliam os mais fortes (“representantes” da maioria) que respondiam em grupos, porém de forma isolada e muitas vezes desorganizada. E só quando a força desorganizada se deu conta de seus erros é que a democracia passa a ser vista não mais como um sonho e sim como uma realidade ainda que distante.

Mas o que tem haver os pássaros com os anos 70? Responderei. É bem simples. Quando observava pela janela de forma critica aquela situação, vi que o pequeno bem-te-vi não atacava o seu oponente de forma direta e desorganizada. Usava para atacar o que tinha de melhor, a velocidade. Ele atacava de forma organizada e estratégica, por todos os lados, mostrando ao seu oponente que apesar de sua pequena estatura ele tinha seu poder, o seu valor e que estaria pronto pra defender o seu território. Muito provavelmente o seu ninho.

Não é o mais forte, o mais inteligente, o mais capaz que vence. Vencem aqueles que tomam consciência do teu poder físico-intelectual, organizam-se e canalizam suas energias para um objetivo. Sendo estes objetivos para o bem ou para o mal.