Reconhecendo a mim mesmo
As dores a que sinto são nada mais que consequências do mau jeito que tenho levado minha vida... Tenho me amado menos quando tenho amado o outro com mais frequência, quando tenho dedicado mais que a mim próprio o tempo de me construir... Quando ao certo seria amar e dedicar por igual. Não quero seguir o exemplo do homem que vivia aos trapos, doente, a cheirar mal enquanto o seu cavalo tinha o melhor dos cuidados, esbelto, vivaz...
Não devo me deixar viver itinerante aos sonhos que independem de minha condição humana e até mesmo sobre-humana de busca-los, pois se eles tendo vontade própria, vão para onde queiram ir, e eu não posso, nem tenho qualquer direito de quebrar o percurso natural das vontades... É óbvio que, somos designados ao livre-arbítrio... E responsáveis por nossas escolhas...
O homem do progresso acostumou a acreditar que as mudanças que faz na natureza são para o bem da humanidade – isto é engano a si mesmo, não deve ser deste modo. Podemos pensar isto na tentativa inútil de mudar os homens na utilidade da ciência do repreender os sentimentos. Não; não se devem repreender nossos desejos, mas compreender. É isto que ininterruptivelmente tento para mim como hábito, e, talvez, muito antes do último ensaio à vida eu posso dizer: “estou reconhecido de mim mesmo”.
É preciso sangrar para se reconhecer humano... E eu tenho me sangrado às dores muita das vezes provocadas por mim mesmo (não sou autoflagelador). Dores desassociadas das verdades imutáveis, e uma delas é minha busca da felicidade, da qual também depende aos que desejo fazer feliz.
Eu preciso compreender muita coisa antes de me tornar ou, para me tornar um melhor homem, pois não basta que sejamos melhores às pessoas sendo um carrasco de nós mesmos. Isto seria injustiça com nossa felicidade. Ser bom aos outros é ser o mais cuidadoso dos seres para consigo mesmo. É amar por igual a nossa imagem na semelhança do outro.
Aquele, ou, aquela que não quis, por alguma justificativa, satisfatória ou não para si, vir ao braço que estendeste a uma vida de contemplação infinita, tendo por escolha outro caminho, para o qual só lhe resta às preces de que tenha as graças da felicidade assim como é seu desejo no caminho que se segue sem “àquela pessoa”.
Viemos ao mundo solitário, assim também teremos de partir um dia... E neste intervalo do nascer ao partir para outro plano de vida, buscamos sempre completar os nossos desejos, e queremos compartilhar com alguém, e com este alguém gritar ao mundo que o amor existe em nossa existência, e que somos partes dele, mesmo que o amor seja independente de nós para ser o que É.
Então, devo dizer para mim todos os dias, como é de costume, até que isto condicione na alma, “a vida, a vida, a vida, a vida só é possível reinventada!” (Cecília Meireles). E é desse jeito, como a poetisa, que eu deva reinventar a vida todos os dias da minha vida.