Potencial
Sempre detestei essa coisa de potencial. Ter um grande potencial e não desenvolvê-lo não leva a nada. É o mesmo que não ter potencial. E eis que eu tenho o tão cobiçado potencial, mas me falta a vontade e o desejo de utilizá-lo. Estou em absoluta falta de vontade de produzir e cumprir minhas obrigações. Sinto verdadeira ojeriza a tudo isso. Para minha maior desgraça, tenho esse implacável senso de responsabilidade e essa auto-crítica mordaz que me persegue dia após dia.
Algumas vezes, emoções e acontecimentos fazem brilhar em meus olhos faíscas de motivação, um forte despertar me consome a carne definhante, e me sinto tal qual fênix despertando do pó. Surge essa explosão de desejo de viver, de fazer e acontecer, que pulsa sob minha pele, pondo todo meu ser em enlouquecido fervor criativo. Infelizmente, é passageiro; intenso, mas passageiro. E de nada adianta o potencial, sem a constância.
Sou inconstante, embora todos me atribuam a constância das plácidas águas de um rio perene. Um dia se surpreenderão quando, mais atentos, descobrirem que um rio tem várias partes, desde o nascedouro à foz, percorre distintos caminhos. Há cachoeira, e correntezas fortes. E ninguém sabe o que há no leito de um rio profundo...