Não esquece, você esquece.

Você esquece.

Você esquece os velhos hábitos, até os que pareciam ser os mais viciados. Você esquece os inseparáveis-melhores-amigos-do-mundo; Você esquece as piadas que um dia te fizeram rolar de rir e depois gargalhar ainda mais, naquele silêncio embaraçoso dentro de um lugar com gente calada aonde só você não conseguia parar de rir; você esquece a música que sentia ser a música da sua vida quando ouvia; esquece aquele corte de cabelo que você amava usar e achava sua cara; você esquece aquelas folhas de papel embaixo de uma gaveta qualquer no seu quarto,entre a madeira e o chão gelado, porque nem na gaveta há mais espaço, não há espaço pra guardar,plastificado, quem você era. Tudo muda, o tempo todo, é tão breve. Sobra uma nuvem duma poeira de sensações, um sorriso que de vez em quando, aquele que você nem sabe o porque, mas está rindo só. Venta gelada a sensação de eu-já-senti-algo-aqui-dentro-mas-não-sei-bem-...Você simplesmente esquece, aquela cólera que alguém te causou te arrancando ódio, você esquece aquele preconceito de algo ou alguém; a opinião transformada. Você deixa o passado lidar com o passado, deixa, ainda bem, tanta coisa nebulosa, a caixinha esquisita das derrotas faz a gentileza de perder-se junto a pedaços de vergonha mas também de saudade. Não é que você esquece pra sempre, mas você passa dias inteiros sem lembrar de tantos ocorridos, e, dia inteiro, é muita coisa.

Não está em suas mãos selecionar as lembranças, o tempo faz isso. Mas por favor, por favor não esqueça de quem você é. Não deixe essa perda do quem você foi ofuscar aquilo que você ainda poderá ser.

Donnadescenica
Enviado por Donnadescenica em 03/05/2012
Código do texto: T3648218
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