Não esquece, você esquece.
Você esquece.
Você esquece os velhos hábitos, até os que pareciam ser os mais viciados. Você esquece os inseparáveis-melhores-amigos-do-mundo; Você esquece as piadas que um dia te fizeram rolar de rir e depois gargalhar ainda mais, naquele silêncio embaraçoso dentro de um lugar com gente calada aonde só você não conseguia parar de rir; você esquece a música que sentia ser a música da sua vida quando ouvia; esquece aquele corte de cabelo que você amava usar e achava sua cara; você esquece aquelas folhas de papel embaixo de uma gaveta qualquer no seu quarto,entre a madeira e o chão gelado, porque nem na gaveta há mais espaço, não há espaço pra guardar,plastificado, quem você era. Tudo muda, o tempo todo, é tão breve. Sobra uma nuvem duma poeira de sensações, um sorriso que de vez em quando, aquele que você nem sabe o porque, mas está rindo só. Venta gelada a sensação de eu-já-senti-algo-aqui-dentro-mas-não-sei-bem-...Você simplesmente esquece, aquela cólera que alguém te causou te arrancando ódio, você esquece aquele preconceito de algo ou alguém; a opinião transformada. Você deixa o passado lidar com o passado, deixa, ainda bem, tanta coisa nebulosa, a caixinha esquisita das derrotas faz a gentileza de perder-se junto a pedaços de vergonha mas também de saudade. Não é que você esquece pra sempre, mas você passa dias inteiros sem lembrar de tantos ocorridos, e, dia inteiro, é muita coisa.
Não está em suas mãos selecionar as lembranças, o tempo faz isso. Mas por favor, por favor não esqueça de quem você é. Não deixe essa perda do quem você foi ofuscar aquilo que você ainda poderá ser.