Virtualizamos o amor
Virtualizamos o amor! Transformamos a amizade em moeda de troca. Transformamos o sexo em propaganda, um atrativo. Uma forma de comércio. As pessoas se exibem, se vulgarizam na esperança de serem amadas. Mas quando há a aproximação, o que se vê? Nada. Nos tornamos vazios. Nós somos belos bibelôs ocos. Ninguém é mais autêntico. Vestimos máscaras. Ou de pessoas intelectuais ou de prostitutas. Nos tornamos caçadores de atenção, de carinho.
No mundo virtual somos descolados, divertidos e cultos. Mas quando olhamos para dentro o que vemos? Vivemos uma vida virtual. Onde passamos mais tempo nos socializando através do computador. E quando estamos de frente com as pessoas não temos muito o que falar. Toda nossa atual geração vive uma vida baseada em frases poéticas ou divertida nas redes sociais. Por isso nos distraímos tanto com os chamados memes. Toda semana existe um novo meme para nos distrair. Olhamos o belo, através de pequenas telas. Recebemos todo dia fotos de cachorrinhos fofinhos e belas vistas de lugares paradisíacos. Que lindo! Uau! Beleza! Vou ver meu e-mail pela 50º vez. É mais ou menos por aí.
Penso muitas vezes que se trata de uma válvula de escape, a busca pelo "Santo Graal". Enquanto estamos nos imbecilizando não pensamos no rumo que estamos tomando. E usando uma ideia que li no próprio facebook. Quando lidamos com pessoas, nós descartamos aquelas que precisam de "conserto". Vivemos a era do descartável. A pessoa nos decepcionou? Trocamos por outra. A pessoa não era aquilo que esperávamos? Joga fora. Nós nos tornamos produtos chineses. Bonitos por fora e frágeis por dentro. Agora somos todos baratos. Não porque não temos valor. E sim por não nos darmos o valor necessário. Não falo do valor de se fazer de difícil, colocando frases do tipo: "Quer me conquistar? Vai ter que suar". Não. Não é isso! É dar valor a alma humana. Dar valor a uma boa conversa. Não depender o tempo todo de um smartphone, de ver danças no Tok Tok para se distrair. Dar valor a nós mesmos como seres humanos falhos que somos.
Às vezes me surpreendo com pessoas que me adicionam no facebook e quando me vêem pessoalmente viram a cara. Não sei bem se é porque não se lembram ou se é porque não querem conversar. Mas se não querem, porque ter meu contato numa rede social? Para dizer que tem muitos amigos? Tenho certeza que muitos já passaram por isso. Várias mini fotos. Umas que talvez nem nunca teremos contato.
Tem pessoas que se superam. Tem uma vida virtual à parte. Tem os amigos virtuais e os reais. Ao tentar se aproximar como amigo real a pessoa até se assusta. Que triste. Que vazio.
Fico pensando como será daqui a alguns anos. Nós deixamos o mundo superficial ou mundo nos tornou superficiais? Não sei bem dizer a ordem certa. As tendências mudaram. As técnicas se aperfeiçoaram. Mas o ser humano ficou preso em algum lugar dentro de si mesmo. Agora todos no fundo gritam e clamam por atenção.
Não vejo melhor frase para ilustrar esse tema do que um trecho de uma letra do Renato Russo.
"Digam o que disseram. O mal do século é a solidão. Cada um de nós imerso em sua própria arrogância esperando um pouco de afeição."