Palavras
Gosto das palavras. São como crianças. Exigem atenção e versatilidade. Abominam ser enganadas, mas adoram fantasias. Exprimem o presente sem máculas. Não descartam o passado, entretanto jamais se enganam com prosperidades. Querem imanência, mesmo sendo linguagem. Querem sabor, porque passam pela boca e não deixam marcas de nutrientes. Como elas gostariam de alimentar corpos ao invés de habitar somente almas. Palavras... Quando o pensamento se demonstra, são elas os convites do corpo em arremesso à vida. Um movimento violento contra um vento da sujeição racional. As palavras podem ser parentes das intuições, apesar de terem-nas arrancado de sua mãe e a terem dado em adoção para a pretenciosa e arrogante razão.
Gosto das palavras porque são multiplicidades. Escorregam. Dançam. Não conhecem o repouso. Quando as tornam estáveis, sambam em rebeldia. Quando as escondem, seja por ignorância ou por autoritarismo, acabam sendo cantadas. Sempre existirão compositores, poetas e músicos para brincar com as palavras. Ao contrário dos adultos, as palavras exigem a fantasia, salientam amigos imaginários. Quem não se lembra que as palavras estavam sempre em alto tom na brincadeira de ser deus, quando havia criação e animação da criatura.
(Luis Cesar Fernandes de Oliveira, Montanha, dia de chuva)