Sinceramente achei que nunca fosse voltar a falar de Amor. Acreditei numa incapacidade que me arrastou a descrença tão feroz quanto a fome que mata. Tão mansa quanto cínica. Tão silenciosa como todo perigo.
 
Pensei ter me tornado um soldado manco, e como tal, impossibilitado de guerrear por aquilo que sempre foi o meu alvo, pois tudo me levava a crer numa eminente regressão. É... Talvez eu tivesse mesmo desaprendido.
 
Voltar parecia custar. E quem sabe, o melhor fosse lançar-me ao mar da desilusão, preso aquela pedra de moinho, deixando morrer o que já estava tonto pelas insistentes pancadas.
 
Muitos vieram me visitar.
Mas, não me encontram.
No meu lugar havia pranto e ranger de dentes. O cheiro da vela que exalava os últimos suspiros. E as badaladas solenes e frias e sombrias do sino da Igreja Matriz.
 
Muitos ficaram.
Mesmo não me encontrando.
E deixaram abraços, conforto. Deixaram coisas minhas espalhadas pelo terreiro.
Eram fotografias... Nelas eu estava tão feliz. Podia ainda ouvir os ruídos dos meus risos, misturados a outros sinceros risos.
 
Os que ficaram fizeram questão de me chamar. Chamar de volta. Para os amores que eu ainda hei de amar. Para as músicas que eu ainda hei de escutar. Para as novas fotos com os amigos de sempre.
 
Como não falar de amor?
 
Se eu ainda estou aqui... Não tenha dúvida, é pelo amor que me tens.
 
Perdão!
Não leves em consideração os trapos que eu chamo de vestes. Não se assuste com o meu aspecto cansado. Se me faltam mãos para te tocar. Braços para te enlaçar e olhos para te fitar.
 
Perdão!
Se as paredes estão pichadas. Se os quadros estão de ponta-cabeça. Se as malas estão cheias de cacos do que foi uma obra de arte. E se no canto da parede amontoam restos de mim.
 
Perdão!
Eu já estive em tempos melhores.
Hoje estou tragado pelos momentos que ainda não esqueci.
Gostaria de te oferecer uma bebida. Quem sabe um chá?
O que fazer? A despensa está vazia... Ficará para uma próxima.
Pode ser?!
 
Voltei!
Machucado, é verdade!
 
Pra falar que as portas, as janelas estão abertas. E que os meus pés estão descalços. Andar será sempre passar por caminhos calmos e cheios de benesses. Será também caminho de pedra e perdas.
 
Como não falar de amor?
 
Se é no ápice da dor. No grito desolador que fazemos a experiência do amor. Só quem nos ama é capaz de ficar com os lamentos, as lamurias e as queixas.
 
Amar o verão e as suas cores é fácil. Ame também o inverno e suas cores pálidas e ridículas e aí você terá amado de verdade.

 

Imagem/Fonte: versosdeumprincipe.tumblr.com
Toni DeSouza
Enviado por Toni DeSouza em 01/05/2012
Reeditado em 01/07/2013
Código do texto: T3642919
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