MORTE?

O cemitério foi algo muito estranho para mim. É porque me fez brotar sentimentos contraditórios. Bons e ruins. Dor e alegria. Saudade e companhia. Tudo ao mesmo tempo. Minha primeira real participação de um enterro, quando pude compreender de forma lúcida que alguém que eu tanto amava havia partido, foi quando meu pai morreu. Teimei, depois desse fato, não entrar mais em um cemitério. Porque as pessoas não sabiam e não compreendiam o que eu estava sentindo. Porque eu queria de alguma forma dizer das dores que me acometiam, com apenas 15 anos de idade. Mas todos que estavam ali pareciam estar representando, fazendo um ritual. Eu sentia que nos pensamentos de cada uma havia pensamentos que não tinha nada a ver com o enterro do meu querido pai.

Foi com o tempo em que fui voltando ao cemitério. Fazendo orações ou algo parecido. A primeira volta foi com a minha ex-esposa, tempo mais tarde com a minha mãe. E voltei novamente a acreditar que o cemitério não era um lugar de depósito de quem já acabou. Que tinha algo mais profundo, porque eu sentia que não tinha acabado. Porque eu sentia que havia algo além de um terreno com um monte de lápides, enfeitadas e simples de acordo com o nível socioeconômico dos herdeiros Terra.

Não sei como explicar, mas creio que entendi que o cemitério (e tantos outros que convencionalmente não chamamos de cemitério, mas igreja, escola, cama, quarto, coração e muitos outros lugares) era mais do que uma porta, e sim uma oportunidade de entrar em contato com tudo que acreditávamos saber, mas que apenas tínhamos uma parte daquilo que iríamos compreender.

Descobri que havia vida muito mais intensa após a vida terrena. Que meu afastamento era um modo de negar aquilo que eu não queria aceitar, de que sabia que a partida necessária não significava ausência absoluta e que um dia, de alguma forma, o encontraria.

Mesmo tendo essa orientação agora, ainda custo compreender de acordo com meus princípios científicos. Mesmo que a ciência tenha começado a lidar de forma pacífica com a fé, ainda há um grande vão que separa essas duas mãos, essas duas orientações.

Nós seres humanos somos tão bobos. Precisamos sofrer para aprender. E podíamos aprender para não sofrer. É por isso que, no caminho da evolução, somos realmente primitivos e ignorantes diante do conhecimento e criação existente. Para constatar isso é só verificar as questões científicas ainda não respondidas (o que é bom, pois assim alimenta a existência de cientistas. O mundo sem pergunta é um mundo sem ciência. O mundo sem ciência é um mundo inerte).

valdirfilosofia
Enviado por valdirfilosofia em 28/04/2012
Reeditado em 28/04/2012
Código do texto: T3637759
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