Utopias e Distopias Pós-Capitalistas
A visão mais otimista do futuro na ficção é Jornada nas Estrelas, com um futuro de paz para a humanidade, agora voltada para a ciência, para a aventura da descoberta, para as expedições interplanetárias. Pena que esse futuro promissor só é conquistado a partir do contato com uma raça alienígena mais avançada do que os humanos, o que mostra um certo pessimismo com a espécie humana, eu acho. Os vulcanos conseguem controlar as suas emoções e usar a lógica nas suas decisões. E eles são uma raça mais avançada, voltada para a ciência. Por isso, eu acho que aquelas pessoas que acreditam no futuro como uma distopia estão mais perto da verdade. A alienação se amplia cada vez mais: as redes sociais virtuais, em muitos casos, substituem as redes sociais reais; o dinheiro é de plástico e também virtual e o capital é cada vez mais fictício e especulativo; a desigualdade social e a destruição do meio ambiente se ampliam na mesma proporção do consumismo e do desenvolvimento tecnológico, principalmente para os bens de consumo (os milhões de celulares no Brasil convivem com a mendicância, com a favelização, com o desemprego e com a alta criminalidade). Aquilo que nós produzimos não melhora de fato nossa qualidade de vida. Aquilo que nós produzimos se volta contra nós.
Sendo assim, vejo o futuro como uma combinação de filmes de distopia social, a começar por V de Vingança, passando por Blade Runner, depois por Exterminador do Futuro, depois por Matrix, depois por MAD MAX e, finalmente, por Planeta dos Macacos! Ou seja, vamos ser dominados por ditaduras com a desculpa do terrorismo ou qualquer outra em nome da segurança, mesmo que signifique o fim da liberdade; depois o controle das grandes empresas se ampliará cada vez mais, a Terra será um lugar devastado e opressivo, os ricos serão extremamente ricos, o nosso passado será totalmente manipulado e nosso presente controlado e as nossas criações serão nossas inimigas; imaginemos que nossas criações consigam se libertar de nós e dominar essa peste sobre o planeta que é a espécie humana, aí então estaremos condenados e seremos dominados pelas máquinas (ou qualquer outra criação nossa - clones, qualquer coisa) e passaremos a servir o que antes nos servia; mas não acho que nos daremos por contentes e arrumaremos algum jeito de explodir com tudo; daí então se instalaria de vez a barbárie (ela já está aí, mas falo da barbárie pós-capitalista, aquela da Rosa Luxemburgo em "Socialismo ou Barbárie", do colapso da civilização capitalista-ocidental-cristã e de qualquer outra sociedade avançada em termos técnicos e de organização econômica e social), vagaríamos pelo mundo, lutaríamos em arenas de gladiadores (será que já não chegamos a isso?) e seria cada um por si, sociedade sem Estado, mas sem igualitarismo ou coletivismo, só "o homem lobo do homem", um mundo dividido mais em gangues do que em tribos; então, alguma raça se tornaria, finalmente, superior em termos culturais, sociais e intelectuais, seríamos uma raça em extinção, dominada, escravizada, caçada, sendo usados como cobaias e como mão-de-obra, e, se isso realmente acontecer, é bem possível que seja de alguma espécie de primata (cuidado com o seu miquinho de estimação!). Futuro sombrio? Pode ser. Exagerado? Talvez. Dramático? Sem dúvida. Irreal? Tanto quanto o mundo que vivemos.
Mas como alguém tão pessimista pode lutar. Luto porque estou vivo. Luto porque o futuro não é certo. No entanto, é um pouco ingênuo nos dias de hoje achar que nos apropriaremos de todo o progresso capitalista (até porque seriam estabelecidas as bases de outro tipo de progresso), isso é bastante século XIX, século do capitalismo em ascensão e não do capitalismo fascista, de forças destrutivas e controle de populações inteiras por serviços de inteligência e meios tecnológicos e da ideologia através não só das igrejas, mas da mídia e de vários recursos disponíveis. Me parece que, cada vez mais, teremos que pensar nas possibilidades. Confesso uma certa tendência minha ao primitivismo recentemente. Uma alternativa primitivista deve ser pensada, até porque não parece ser tão certo assim que os capitalistas deixarão o mundo para nós tranquilamente e não se trata aqui só de revolução ou não, estamos falando de pessoas que explodiriam o mundo só para não ver a sua civilização ruir, o que é inevitável, como tudo na vida que acaba, morre, tudo o que existe deve perecer; mas não pensam assim os burgueses e usarão duas, três, dez, vinte bombas nucleares antes de abandonar o poder. Consumirão todo o planeta antes de acabar com o seu próprio consumismo e reduzir os seus lucros. Mas a nossa existência, a existência humana está ligada à terra, é com a agricultura que o homem começa a produzir e, se acabarem os celulares, os carros e os computadores, mas ainda existir terra boa para plantar, ainda haverá esperança. Como eu não acredito que os ET´s virão para nos salvar de nós mesmos, só posso pensar as alternativas pós-capitalistas do mundo construídas pelos seres pensantes deste mundo e com base nas contradições deste mundo, com suas relações de forças e sua correlação entre as revoluções de massas e as forças destrutivas nas mãos da classe dominante. O socialismo não será um desdobramento dessa sociedade, nascerá de suas ruínas. O socialismo é uma utopia que também é renascimento, é o reencontro do homem consigo mesmo, com a humanidade e com a natureza em patamares mais elevados. Que venha logo o futuro, porque das ruínas é possível reconstruir o mundo, refazendo-o melhor, seja revolucionariamente, seja como uma retomada em novas bases do caminho do progresso pós colapso, pós catástrofe, mas se demorar mais, talvez só sobre pó e aí não haverá mais nada para o que dar forma. Formas novas precisam surgir. A nossa utopia precisa começar hoje e o quanto antes, porque a distopia social, essa é líquida e certa! A vida humana precisa de significado e viver só o presente, só para o presente e só para si mesmo é a estrada que leva direto ao abismo. Boa viagem àqueles que seguirem este caminho! Já vão tarde! E aqueles que esperam o Paraíso no futuro, o Paraíso não existe, nem no Céu nem na Terra, sinto muito acabar com as falsas esperanças de quem quer que seja. O comunismo não será o Paraíso e passaremos por mil Infernos antes de chegar nele! O Outro Mundo não é o Paraíso, porque ele não existe, só existe esse mundo, essa vida, essa existência e, por isso, as nossas ações importam, por isso elas são só o que importa! O futuro não será belo, porque o passado não foi e o presente não é, mas pode ser diferente e melhor do que é hoje, se vivermos e lutarmos com esperança, mas sem ilusões, sem as falsas ilusões de classe média burguesa ou as ilusões religiosas, só o olhar cru sobre a realidade e a imaginação para pensar algo diferente e ousar fazer com que nasça o sonho do combate necessário. A vida é uma guerra que não se trava só quando se sabe que vai vencer ou que o futuro será como desejamos; não controlamos o futuro e ele nunca é como desejamos, a história sempre surpreende, o seu desenvolvimento é sempre complexo e repleto de escolhas que mudam a direção. Sempre que acordamos, acordamos pra guerra, porque senão o mundo te devora, se não devora por fora, devora por dentro, mas é a sua humanidade que se esvai pouco a pouco, dia a dia. A nossa luta também é uma luta moral. É a luta entre o melhor contra o pior do mundo.