O que sobrou.
Eu? Eu já não tenho a graça que tive outrora,
Tampouco hoje faço sorrir.
O meu retrato tem tom de sépia.
E os meus caminhos rumam e para onde ir?
Eu que habitava a alma, hoje se habito na lembrança, sou pó das partes escondidas da estante.
Porque há de haver verde-esperança dentro desse teu peito frio.
Eu acredito enquanto houver o brilho das minhas lembranças.
As vezes parece que não existi, e se existi também não sei,
Sei que tens razão em querer-me em paralelo ao universo, eu sei que tens , mas repito a mim todo dia , que é para acreditar nessa mentira.
Eu fui, e sou o que sobra, porque o que houve de melhor, foi apagado da lousa quando eu quis redigir a história, eu nunca me saí bem com as palavras e já faz tempo.
Haverão lençóis que vão jurar que me amou, e como amou.
Entrelaçava-se em minhas pernas, e agarrava meu dorso, beijava meu ombro, e era terno, as paredes eram testemunhas.
Haverão outras tantas ruas que te viram se agarrar em minhas mãos, e mais um tanto de gente que parou pra nos ver se abraçar mais de uma vez...
Se a saudade é tão maldita assim, então serei eu a vista dos olhos do inferno, porque carrego a saudade dentro, e fora, e nos olhos, e nas lagrimas,mas também força para acreditar no que há de vir e além.
Já eu , mortal e estranha, não consigo resgatar uma ínfima parte do que sobrou de nós em ti, e tú és a parte que me cabe no peito, que pulsa e bate, e revira a casa quando teu cheiro invade o pensamento.
E eu quero gritar, eu quero falar-te o quanto , e te alastrar a alma , te rasgar a pele, derrubar o muro, mas a mim, jardineira fiel dos meus sentimentos, cabe a parte plantar a semente no mesmo lugar de onde foram arrancadas as rosas, e eu só me pergunto quando foi que nós as matamos?